Filme do Dia: O Pranto de um Ídolo (1963), Lindsay Anderson
O
Pranto de um Ídolo (This Sporting LIfe,
Reino Unido, 1963). Direção: Lindsay Anderson. Rot. Adaptado: David Storey,
baseado em seu próprio romance. Fotografia: Denys N. Coop. Música: Robert
Gerhard. Montagem: Peter Taylor. Dir. de arte: Alan Whity. Cenografia: Peter
Lamont. Figurinos: Sophie Devine. Com: Richard Harris, Rachel Roberts, Alan Badel,
William Hartnel, Colin Blakely, Vanda Godsell, Anne Cunningham, Jack Watson,
Arthur Lowe.
Ex-mineiro e jogador de rugby amador, Frank Machin (Harris)
vive na casa da viúva Margaret Hammond (Roberts), por quem é apaixonado, e
sonha em ser contratado pelo City, clube de prestígio. Em uma apresentação
virtuosa chama a atenção de um empresário do clube, Gerald Weaver (Badel). Ele é
contratado pelo salário de mil libras, porém sua relação com Margaret continua
complicada, pois ela nunca assume de fato a relação com ele e não consegue
esquecer de todo o marido suicida. A fama e o sucesso repentinos de Machin, por
sua vez, o fazem perceber que ele sempre não será mais que uma figura
folclórica no mundo dos ricos e famosos, despertando a atenção tanto da Sra.
Weaven (Godsell) quanto do próprio marido. Após uma briga na qual decide sair
de casa, Frank retorna para a casa de Margaret, mas a vizinha lhe diz que essa
se encontra no hospital. Frank vai visitá-la no hospital e testemunha sua
morte.
Esse filme, um dos expoentes do chamado (ainda que
erroneamente) Free Cinema britânico
[trata-se da corrente que ficou conhecida na Inglaterra como “kitchen sink”],
parece ter envelhecido pior do que outro filme referencial do movimento, Um Gosto de Mel (1961), de Tony
Richardson. Como nos outros filmes do movimento, o que se destaca é uma
preocupação com a abordagem social de seus personagens de origem proletária,
numa perspectiva que, guardadas as devidas proporções, também era efetivada no
Brasil contemporaneamente. Nesse retrato, as personagens populares são sempre
descritas de um modo mais simpático, ou pelo menos contando com a cumplicidade
do narrador, enquanto a elite é apresentada como corrupta e devassa. Aqui
praticamente tudo o que se vê tem como filtro um dos mais prototípicos angry young man do ciclo. Aliás, o esporte como uma das formas de
destaque para pessoas de baixa renda já havia sido tematizado em A Solidão de uma Corrida sem Fim (1962),
também dirigido por Richardson. Como nesse último, a narrativa é longe de
linear, sendo costurada em boa parte a partir de memórias de um Frank
anestesiado após receber um murro que o fará perder alguns dentes. Apresenta
mais que insinuantes alusões a um universo homo-erótico que envolve o esporte,
seja na figura de um velho olheiro obcecado por Frank, no empresário que o tem
como sua propriedade e que após fechar o contrato e lhe deixar em casa põe a
mão na sua coxa ou numa cena de vestiário com vários homens despidos e em
situação de brincadeira coletiva, aproximando-se nesse sentido, ainda que de
modo mais incisivo, de Rocco e seus Irmãos (1960). O Frank de Harris, sobretudo em sua primeira metade, é
demasiado inspirado nos trejeitos de rudeza máscula que não deixa de trair
certa fragilidade de atores como Brando, sendo sua interpretação um tanto over e talvez empostada para os padrões
de hoje. Em alguns momentos o filme flerta com o melodrama. Como nos belos planos de Frank em meio a uma paisagem grandiosa e, ao mesmo
tempo, soturna, transformando-se numa apropriada representação de seu embate
solitário e ressentido contra um mundo adverso. É mais do que explícita, até no
próprio título, e próxima do darwinismo social,
a relação da violência e competitividade do esporte com a própria
vida. Glenda Jackson surge em ponta não
creditada como desafinada e atrapalhada cantora de boate. O estilo e a temática de filmes como esse
seriam fundamentais para posteriores realizadores britânicos como Ken Loach,
Stephen Frears ou Mike Leigh. Foi
produzido por outro nome influente do movimento, Karel Reisz. Independent
Artists/Julian Wintle-Leslie Parkyn Prod. para J. Arthur Rank Film. 134
minutos.
Comentários
Postar um comentário