Filme do Dia: O Golem (1920), de Paul Wegener & Carl Boese
O
Golem (Der Golem, Wie er in die Welt kam,
Alemanha, 1920). Direção: Paul Wegener. & Carl Boese. Rot. Adaptado: Henrik
Galeen & Paul Wegener. Fotografia: Karl Freund. Música: Hans Landsberger.
Dir. de arte: Hans Poelzig & Kurt Richter. Figurinos: Rochus Gliese. Com:
Paul Wegener, Albert Steinrück, Lyda Salmonova, Ernst Deutsch, Hans Stürm, Max
Kronert, Otto Gebühr, Lothar Müthel.
Em Praga, século XVI, o Rabino Loew (Steinrück), decide
constroir um monstro, o Golem (Wegener), para deter as perseguições que o
tirânico Imperador Luhois (Gebühr) comete ao povo judeu. Inicialmente apelando
para a magia para tentar comover a corte do sofrimento dos judeus, Loew invoca
a própria destruição do castelo do tirano, que somente é detido pela força do
Golem. Loew descobre, no entanto, que a conjunção dos astros fará com que o
monstro se volte contra seu próprio criador. Seu assistente de Loew, Famulus (Deutsch),
apaixonado por sua filha, Miriam (Salmonova), amante do Conde Florian (Müthel),
reanima o monstro para se vingar do desprezo de Miriam. O monstro assassina
Florian e arrasta Mirian consigo, destruindo tudo que se encontra a sua volta.
Uma inocente criança, no entanto, irá desarmá-lo.
Fabulosa adaptação da lenda judaica, onde a cenografia e a
iluminação expressionistas ganham contornos de grande produção e transformam os
cenários de O Gabinete do Dr. Caligari
(1919), de Wiene, quase indigentes – embora talvez até mais sugestivos em seus
traços básicos. Muitos dos elementos dos filmes de terror posteriores já se
encontram presentes na obra e alguns dos mais influentes filmes do gênero
certamente foram influenciados pela produção de Wegener, mesmo que apenas em
alguns de seus motivos visuais – como a ascensão do monstro do chão, sem o
apoio dos braços, que seria reempregada por Murnau em seu Nosferatu (1922) ou o andar enrijecido, expressão mumificada e empatia
com as crianças em Frankenstein
(1931), de Whale, para não falar dos cenários e de alguns elementos narrativos
que igualmente se tornariam recorrentes em filmes do gênero. Não apenas no
cinema de horror o filme influenciou – a cena da invocação do demônio voltaria
a ser apresentada em termos bastante semelhantes no Fausto (1926), de Murnau e o tema do herói que possui apenas um
ponto sensível, bastante caro à tradição das lendas germânicas, ainda que no
caso aqui adaptada para o monstro, voltaria a ser enfatizada na saga dos Nibelungos, de Fritz Lang. Da mesma forma a contraposição entre a
bela e a fera será retrabalhada em King Kong (1933), de Merrian C. Cooper e Ernest Schoedsack. Em termos narrativos o filme não impressiona
tanto quanto visualmente – a narrativa secundária do amor de Florian por
Miriam, ainda que bastante sensual para os padrões norte-americanos pós-Código
Hays, não possui nem de longe o mesmo desenvolvimento e atração que a relação
entre o monstro e a segurança do povo judeu. Em termos políticos, embora o
filme aparentemente seja uma exaltação dos valores judaicos, não há como não
perceber a ênfase na representação do judeu como um “outro” exótico e repleto
de magias e artimanhas, sendo a reunião na sinagoga um verdadeiro congresso de
bruxos. Por outro lado, antecipa de maneira surpreendente o que ocorrerá na
própria Alemanha pouco mais de uma década depois. Porém, de toda maneira, o que
importa frisar é a capacidade que o filme impõe da difícil tarefa de
representar o universo mágico e, ao final das contas, grandemente a-histórico
em que se desenvolve sua narrativa (como aliás, presente em outras obras-chaves
do momento, marcadamente expressionistas ou não, tais como Caligari e Nosferatu). O
erotismo implícito na figura do próprio monstro, que se tornaria uma das
características de muitas das adaptações que tinham figuras monstruosas como
protagonistas já se faz presente aqui,
na forma que o Golem passeia suas mãos pelo corpo de Miriam ou que mulheres da
corte se aproximam dele. Uma das cenas mais interessantes é a que o visionário
Loew apresenta as cenas de sofrimento diante do Imperador e, em pouco tempo, a
tragédia se torna motivo de comédia para os espectadores dessa precursora
sessão de cinema. Wegener, que também viveu o próprio Golem em suas adaptações
anteriores da lenda, de 1915 e 1917, respectivamente, foi igualmente roteirista
de um dos precursores do Expressionismo nas telas, O Estudante de Praga (1913). Salmonova, que se encontra presente
nas quatro produções, vivendo sempre a heroína, abandonou a carreira
cinematográfica precocemente, dois anos após esse filme. PAGU. 85 minutos.
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