Filme do Dia: Mikael (1924), Carl Th. Dreyer
Mikael (Mikaël, Alemanha, 1924). Direção: Carl Th. Dreyer. Rot.
Adaptado: Thea von Harbou & Carl Th.
Dreyer, baseado no romance de Herman Bang. Fotografia: Karl Freund &
Rudolph Maté. Cenografia e Figurinos: Hugo Häring. Com: Benjamin Christensen,
Walter Slezak, Nora Gregor, Robert Garrison, Alexander Murski, Max Auzinger,
Didier Aslan, Wilhelmine Sandrock.
No século XIX, Claude Zoret
(Christensen) é um artista de reconhecida fama e cujo sucesso ganha dimensões
inéditas após transformar o jovem estudante Mikael (Slezak) em seu modelo.
Zoret decide pintar a princesa russa Zamikoff (Gregor), de modo a deixar
enciumado o jovem protegido, cujos rumores falam em aventuras amorosas com
mulheres. Porém, para o desespero de Zoret, o quadro de Zamikoff não possui seu
habitual brilho e somente quem consegue sentir a vivacidade do olhar dela é
justamente Mikael e, o que é pior, Zamikoff acaba se apaixonando por Mikael.
Ainda que muito do talento de Dreyer
já possa aqui ser apreciado, principalmente no que diz respeito a direção de
atores e no interesse por temas metafísicos (aqui, a morte, que um personagem
proclama em uma mesa como sendo a mais bela como aquela pelo homem que se ama,
algo que Zoret afirmará ao final diante de sua própria morte) tampouco se deve
esquecer uma dimensão extravagante, e mesmo kitsch,
mais devedora do célebre estúdio alemão que o produziu e da roteirista Harbou,
então mulher do cineasta Lang. Dimensão essa saliente sobretudo nas obras de
arte criadas por Zoret. Há uma evidente tensão homo-erótica entre Zoret e
aquele a quem trata por filho que antecipa uma situação semelhante vivida,
ainda que mais discretamente, por Burt Lancaster e Helmut Berger em Violência e Paixão (1974), de Visconti.
A vampirização da beleza e juventude em conexão com a arte é evocativa de O Retrato de Dorian Gray, de Wilde,
enquanto as reflexões sobre a vida e a morte através da arte certamente
influnciaram Bergman. Co-fotografado por dois gênios da categoria (sendo que um
deles, Freund, também surge em uma ponta como crítico de arte). Curiosamente,
há uma seqüência em que Dreyer homenageia o cinema, coom a presença de
miniaturas de figuras como Chaplin no quarto de Mikael. UFA. 88 minutos.

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