Filme do Dia: Os Dias com Ele (2012), Maria Clara Escobar

 


Os Dias com Ele (Brasil/Portugal, 2012). Direção e Rot. Original: Maria Clara Escobar.  Montagem: Júlia Murat & Juliana Rojas.

A realizadora escolhe como personagem de seu documentário o próprio pai, Carlos Henrique de Escobar Fagundes, acadêmico e artista que foi militante de esquerda, preso desde tenra idade por sua militância precoce e, posteriormente, preso e torturado pela ditadura militar brasileira. Mesmo fazendo essa forte conexão entre memória pessoal (auxiliada por imagens de filmes em super-8, alguns dos quais aparentemente de acervo familiar, enquanto outros explicitamente referidos como não) e história política brasileira através da fala de Carlos Henrique, assim como as indagações que ouvimos da filha, o filme tende boa parte de seu tempo para nem uma coisa nem outra, simplesmente apresentando o registro de momentos cotidianos do autodidata radicado em uma pequena cidade portuguesa desde sua aposentadoria com mulher e filho; assim como sua resistência e o embate constante entre entrevistadora e entrevistado a respeito da natureza do projeto que está sendo filmado. Tão importante ou mais que os depoimentos do pai, sobretudo aqueles que ele achava que seriam o tema do documentário ao início, vinculados à sua produção artística e intelectual, são igualmente os revelatórios silêncios, as pausas e a incorporação de cenas as quais ele sequer sabia que estava já sendo filmado, observando-se a mudança  de postura física e tom de voz efetuada por ele quando se acredita enfim filmado. Misantropo, declara que pretende ser enterrado em um cemitério de animais – cria três gatos que surgem em cena – e se autodefine na cena da esquerda pós-democrática dentre aqueles derrotados e que não seguiram carreira, sendo inclusive, segundo ele, vítimas de perseguição para que abandonassem o Partido dos Trabalhadores durante as gestões de Lula e Dilma. Destaque para o momento em que a cineasta ocupa a cadeira vaga por um bom tempo, para a cena em que planejara o pai lendo a própria ordem de prisão do Exército expedida contra ele em 1973, lida por ela.   Filmes de Abril/Klaxon Cultura Audiovisual. 105 minutos.

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