Filme do Dia: A História Não Contada dos Estados Unidos - JFK à Beira do Abismo (2012), Oliver Stone

 


A História Não Contada dos Estados Unidos –  JFK à Beira do Abismo (The Untold History of United States. Chapter 6: JFK to the Brink, EUA, 2012). Direção Oliver Stone. Rot. Original Matt Graham, Peter Kuznick & Oliver Stone. Música Craig Armstrong & Adam Peters. Montagem Alex Márquez.

Não deixa de ser irônico que o capítulo reservado a Kennedy seja o que possui um punhado de segundos a menos e não a mais, dada a obsessão pelo qual foi investigado por Stone (JFK, JFK Revisitado: Através do Espelho) ou talvez por isto mesmo; se bem que o segundo é posterior a este. E mais saliente ainda: Stone não centra demasiado na figura em si de Kennedy e medidas pessoais tomadas por este, mas também na administração de seu governo e, sobretudo, no  contexto histórico. A campanha de 1960, a primeira com debate televisivo (do qual vemos umas poucas imagens, mas infelizmente sem sonorização correspondente) foi marcada pelo tema do comunismo, e o anti-comunismo era marca registrada do candidato Nixon. Kennedy foi vendido como o candidato da mudança, assim como Obama, décadas depois, seria-o. Se o novo presidente trouxe um vice Lyndon Johnson, escolhido a dedo para aplacar à sanha conservadora (era senador pelo Texas), bem mais ousada foi a escolha de um civil, Robert McNamara, para Secretário de Defesa, pondo sob escrutínio a gigantesca máquina de guerra do país. A administração Kennedy fica sabendo dos planos dainvasão cubana. A invasão da Baía dos Porcos se sucede, em 1961. Kennedy negou apoio do governo à ação, temendo uma retaliação soviética à Berlim Ocidental. Porém, apesar do não apoio inicial a uma invasão cubana, houve  vários arremedos de operações do tipo. Temeroso de um novo envolvimento bélico no sudoeste asiático, Kennedy possuía uma política de apoio ao ditador vietnamita, louvado por Lyndon Johnson como o “Churchill do Sudoeste Asiático” .  Kennedy, desejoso de fazer a CIA em mil pedaços e jogá-los ao léu, teve a empáfia de peitar o organismo, despedindo seu rosto mais conhecido e “venerando” (dos simpatizantes), Allen Dulles, o próprio a ter planejado uma ação contra Cuba nos tempos avizinhados de Eisenhower. Paradoxalmente, em seu curto período de governo, houve mais missões organizadas pelo órgão que em todos os oito anos da administração Eisenhower. Uma humilhação para o bloco soviético foi a partida de cerca de 2,5 milhões de alemães orientais para a banda ocidental, cerca de 1/5 da população do país. Apesar de todos seus questionamento junto a pantagruélica máquina guerreira americana, Kennedy somou mais 300 mil homens ao exército. A crise dos mísseis cubanos, em outubro de 1962, traria mais dor de cabeça a Kennedy que o episódio da Baía dos Porcos.  Imagens trazem uma assustadora rendição à mentira de Kruschev. O líder soviético prometera não armar o vizinho norte-americano com mísseis. Agora existiam evidências fotográficas opostas.  Kennedy se vê pressionado a tomar uma ação imediata ou acreditaria sofrer um impeachment caso não o fizesse. Mesmo sabendo haver o próximo do equivalente em termos de armamentos americanos em proximidade do solo soviético. Sob a suspeita falsa de uma invasão iminente a Cuba, Kruschev retirou os mísseis no dia 25 de outubro.  A situação descrita por alguns como a mais perigosa da história da humanidade, envolveu o quase acerto de um submarino atômico soviético. Kruschev saiu do poder devido a crise, no ano seguinte. Ironicamente, era o momento da eleição de um dos papas mais populares e mais vinculados à paz da história do papado, João XXIII, de breve reinado. A relação de Kennedy com o Vietnã é extremamente complexa e contraditória – e aqui o peso destas contradições parece mais evidenciado que em seu filme ficcional e documentário de longa-metragem.  Nos últimos meses de sua vida, Kennedy apoiou uma ação de intervenção em Cuba. Sofria dores intensas de uma doença crônica e se tornava cada vez mais dependente de analgésicos. Sobre sua atribulada vida amorosa e fofocas do tipo, Stone limita-se a clássica e breve imagem (em péssimas condições  de nitidez, como quase sempre) de Marilyn a cantar os parabéns de forma derretida no Madison Square Garden. Também proferiu um discurso corajoso, incentivando a se ver os soviéticos como pessoas normais e se por um fim a Guerra Fria. Em setembro, houve um banimento parcial dos testes atômicos aprovados pelo Senado americano. Em novembro, Kennedy chega a Dallas, Texas, visando sua campanha de reeleição.  Sobre o assassinato do presidente (explorado intensamente em JFK Through the Looking Glasss) não mais que uns dois ou três minutos próximos do final. Com o cerne de alguns argumentos a ser desenvolvido posteriormente, como o de Allen Foster Dolles, o mesmo demitido por Kennedy da CIA, ter capitaneado a Comissão Warren, e chegado a conclusão, negada por Stone e meio mundo, de Lee Harvey Oswald ter agido sozinho. Stone embora não especifique exatamente quais forças mataram Kennedy, afirma terem sido as mesmas a impedir a posse de Wallace, em 1944.  E que o realizador amplia para incluir o líder rival, Kruschev, aparentemente apeado do poder por não se prestar tanto aos desígnios da Guerra Fria.  Também cabe no “pacote Kennedy” a ser utilizado em outros momentos, o inescapável comentário sobre Lyndon Johnson ter mudado os rumos a respeito do Vietnã e da União Soviética. Da produção audiviosual ficcional faz-se use de uma breve cena de um episódio de Além da Imaginação. Cidadão Kane, apresentando o personagem-título asseverando proporcionar a guerra, contra um cronista que afirmava a não existência da possibilidade de guerra com Cuba, no momento de surgimento da Guerra Hispano-Americana. Uma vez mais também Dr. Fantástico. 13 Dias que Abalaram o Mundo, tematiza a crise dos mísseis, cujo auge, levou a populações de cidades se deslocarem em temor de risco nuclear. Sete Dias em Maio para ilustrar o best-seller sobre um tratado nuclear de um novo presidente liberal com os soviéticos, lido por Kennedy. E justamente uma cena na qual o personagem de Burt Lancaster, militar, adverte o presidente de ser uma “irmã fraca”.  Psicose, cuja cena é tão breve ao ponto de sequer ser dado crédito, aparece quando Stone se refere aos terrores vividos por quem atravessou a década de 1960, numa das referências ficcionais mais criativas – como se arrastasse tal escopo para os temores vividos nas salas de cinema igualmente.|Secret History. 58 minutos.

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