Filme do Dia: O Cego Que Não Queria Ver o Titanic (2021), Teemu Nikki



Cego Que Não Queria Ver o Titanic ((Sokea Mies Joka Ei  Halunnut nähdä Titanicia, Finlândia, 2021). Direção e Rot. Original Teemu Nikki. Fotografia Sari Aaltonen. Montagem Jussi Sandhu. Com Petri Poikolainen, Marjaana Maijala, Samuli Jaskio, Hannamaija Nikander, Matti Onnismaa, Rami Rusinen.

Jaako (Poikolainen) se encontra praticamente confinado em casa, cego e paralisado da cintura para baixo, dependente da ajuda de sua cuidadora (Nikander) ou da família se precisar sair. Ele se envolve emocionalmente com uma mulher que se relaciona pela internet, Sirpa (Maijala), e que demonstra extrema vulnerabilidade com as más notícias sobre suas próprias condições de saúde. Jaako decide ir visita-la por conta própria, mas infelizmente se depara com uma dupla de criminosos (Jaskio e Rusinen), que pretendem se apossar dos 6 mil euros ganhos por Jaako em um jogo virtual, na véspera.

Infelizmente mistura alguns dos piores temperos para sua salada entre comédia e – sobretudo -drama. Há todo um maçante prólogo que tenta, sem grande sucesso, nos fazer cúmplices de seu personagem, fazendo uso de referências fílmicas (os filmes de John Carpenter, Titanic) e, sobretudo, a situação de confinamento de seu personagem. Une-se a isso uma um tanto desbalanceada  coincidência de encontrar personagens tão sórdidos na jornada do herói.  E depois de um momento, perceber-se-á que o que  parecia se assentar sobre uma incorporação das limitações do personagem – há uma imagem difusa, o máximo que o filme concede de aproximação da situação de seu personagem sem se transformar numa experiência vanguardista como Blue – arrisca se transformar em um mero pretexto para o suspense. E para situações ordinariamente previsíveis, como um princípio de empatia com um dos meliantes da dupla e o retorno do segundo antes que o primeiro o livrasse. Situações que talvez coubessem melhor em um filme curto. E que não representam nada para além de si próprias. Sobre a atuação de Petri Poikolainen se sustenta tudo, já que mal conseguimos divisar o rosto dos outros atores. E por mais que o trabalho do ator seja eficiente, resguardadas as considerações acima, é o que se exige dele que é francamente questionável, e que se busca driblar com firulas engraçadinhas de comentários sobre filmes, sempre conhecidos, de quem ele interage ou com criativos créditos em braile. Constrangedoramente pouco para saídas um tanto toscas, como a da situação de conflito maior ou ainda a cena final. E mesmo a cena que pretende angariar maior carga emocional, em que se representa a interação virtual dele com Sirpa não vai além do patético. À compressão espacial de um bom trecho inicial do filme se junta a temporal, pois a história provavelmente não vai além de um par de dias. Talvez a principal aresta a ser limada seja a modulação dramática, e mesmo literalmente das vozes, como a do rapaz que aparentemente veste uma camisa da banda Scorpions, extremamente clichê, para parecer minimamente crível. Talvez essa seja a ambição do filme, mas se for tampouco funciona e ficamos com o impaciente gosto de se assistir um curta demasiado prolongado – trata-se de fato de um realizador com longa experiência nesse formato, e apenas um longa prévio. A esclerose múltipla vivida pelo personagem também é compartilhada pelo ator que a interpreta, o que não põe apenas na rubrica interpretação, a construção do personagem. It’s Alive Films/Wacky Tie Films para IntraMovies. 82 minutos.

  

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