Filme do Dia: 1971 - O Ano em Que a Música Mudou o Mundo - What's Happening? (2021), Asif Kapadia

 


1971 – O Ano em Que a Música Mudou o Mundo (1971: The Year That Music Changed EverythingWhat’s Happening?, EUA, 2021). Direção Asif Kapadia, Danielle Peck & James Rogan. Montagem Brett Irwin.

Série em oito episódios cujo apelo pop se sobrepõe ao da pretensa premissa que lhe dá título, qual seja, o da vinculação entre a música e as transformações sociais, de forma mais concreta. E quando se fala em apelo pop, não se limita a música, mas a forma rasteira com que as questões da época são tratadas, a partir de uma olhada panorâmica do alto e de meio século após, e contando com uma trilha sonora encantada a nos cegar para questões que desafiem o óbvio. Assim parece quase um insulto à ética que Happy Xmas (War is Over) de Lennon venha a ilustrar a imagêm icônica da criança nua que corre desesperada pelo efeito do napalm em seu corpo ou da mãe com sua criança semi-destruída em seus braços. O que já não é para a continuidade da música com cenas da Nova York da época e de John Lennon e Yoko Ono. Por mais que ambos os registros, o sonoro e o audiovisual tenham tido seu impacto na consciência coletiva para sedimentar ou aprofundar sua postura pelo fim do conflito, são de natureza e densidade completamente distintas, reunidas enquanto mero espetáculo. A imagem talvez mais impressionante, deixado de lado os cadáveres dilacerados de americanos mortos jogados pelos próprios colegas exauridos,  uma das poucas que traz um elemento inesperado para quem não vivenciou a época ou já a viu em alguma outra seleção, é uma apresentação de Ray Conniff e sua orquestra, algo mais domesticado impossível, em relação a explosão de contestação que se produzia por cabeças como Neil Young, Marvin Gaye ou John Lennon, observados ao longo do documentário;  e, antes mesmo de iniciarem, uma participante do grupo faz seu protesto contra os bombardeios do Vietnã, diante de um Nixon que apenas sorri, e cujo constrangimento aumenta quando o próprio Conniff, também questiona o cristianismo de tais ações. Inicia com o massacre dos estudantes da Universidade de Kent que motivou a bela canção Ohio, curiosamente comentada retrospectivamente não por ele, mas por seu então companheiro ocasional de palco, Graham Nash. Como outros projetos aos quais se encontra vinculado Kapadia, que criou uma grife cinebiográfica (Senna, Amy) todas as imagens são de arquivo, somente os áudios é que se dividem entre material de época e posterior. Há uns poucos momentos em que a coalização entre universo extra-musical e falas de outras áreas demonstram a influência de um campo sobre o outro de forma didática. O mais relevante de todos, a invasão de uma agência do FBI e posterior vazamento de informações lá encontradas, que o autor comenta como associadas a uma canção do The Who Won’t Get Fooled Again. Embora músicos e músicas diversas sejam vislumbradas, incluindo Miles Davis-Right Off Take 10, o episódio é dominado por duas antenas do período, segundo as várias vozes que comentam, um disco de Marvin Gaye, que Chrissie Hynde do Pretenders (comentarista habitual), afirma  ter provocado um efeito comparável ao do Sgt. Peppers dos Beatles e John Lennon, cujas imagens remetem às gravações do álbum Imagine, e são extensamente reproduzidas e já bastante conhecidas. As únicas outras que se aproximam, em termos de extensão, ao que foi dedicado aos dois artistas é a de George Harrisson e o show que organiza no Madison Square Garden com luminares do pop de então como Leon Russell, Eric Clapton e Bob Dylan, que foi denominado Concerto para Bangladesh. E dentre os eventos da época, outro que ganha destaque, de grande repercussão midiática (observamos diversas celebridades na platéia como Frank Sinatra, Woody Allen – com Diane Keaton? - James Baldwyn e Aretha Franklin). Mercury Studios-On the Corner Films para Apple TV+. 50 minutos.

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