Filme do Dia: Cimarron (1931), Wesley Ruggles

 


Cimarron (EUA, 1931). Direção: Wesley Ruggles. Rot. Adaptado: Howard Estabrook & Louis Sarecky, a partir do romance de Edna Farber. Fotografia: Edward Cronjager. Música: Max Steiner. Montagem: William Hamilton. Figurinos: Max Rée. Com: Richard Dix, Irene Dunne, Estelle Taylor, Nance O’Neil, William Collier Jr., Roscoe Ates, George E. Stone, Eugene Jackson, Junior Johnson, Dolores Brown.

1889. Yancey (Dix) abandona a família e a segurança do Arkansas para partir para o futuro estado do Oklahoma, levando consigo sua mulher, Sabra (Dunne) e a criança dos dois, Cimarron, ou simplesmente Cim (Johnson), assim como o garotinho negro que servia a família, Isaiah (Jackson) após uma tentativa frustrada de conquistar propriedade, pelo fato de Yancey ter sido enganado ao tentar ajudar Dixie Lee (Taylor). A missão de Yancey é de implantar a imprensa no local, fundando um jornal, o Oklhahoma Wigwaw. Yancey enfrenta o maior inimigo da paz pública e o assassina em pleno culto onde prega, em legítima defesa. Fato que se repetirá quando o criminoso mais procurado do estado, Kid (Collier Jr.). Quando o presidente Cleveland anuncia a disposição de novas terras que antes haviam pertencido aos indígenas, Yancey abandona a mulher com os agora dois filhos e parte, desaparecendo por cinco anos. Ao retornar, nem bem acaba de chegar e já se torna o defensor da prostituta Dixie Lee, contra quem existe um movimento na cidade para sua expulsão, que tem como uma de suas lideranças a sua própria esposa.  Alguns anos após, Yancey desaparece mais uma vez. Já com filhos adultos, um deles disposto a casar com uma índia, Ruby (Brown), Sabra agora é uma poderosa, rica e influente mulher de negócios. Ao visitar um campo petrolífero, sabe de um homem que se predispõe a pagar com sua própria vida o que poderia se transformar numa calamidade para o local e consegue ainda encontra-lo vivo. É o seu marido Yancey, homenageado como fundador do estado com uma enorme estátua.

Esse espalhafatoso western – pode ser considerado, a seu tempo, o que Duelo ao Sol (1946) seria para o gênero na década seguinte -,é marcado pela imagem do herói prototípico liberal, que antecipa o Wayne de No Tempo das Diligências (1939), em defesa de uma prostituta acusada por uma sociedade eminentemente hipócrita, assim como também possui uma posição simpática em relação aos índios. Tal simpatia paternalista, no entanto, não se inscreve de forma tranquila no corpo do próprio filme, sobretudo na representação dos negros personificada na figura do pequeno Isaiah, observado caindo do alto, de onde abanava os comensais na residência elitizada da família de Sabra, ou a quem Yancey apresenta a quantidade de melancias na chegada da cidade onde morarão. E, por fim, que perderá a própria vida numa morte sabidamente anunciada, que tem como intuito de salvar a vida do filho do casal, e de quem nenhum dos dois se lembrará de saber se se encontra a salvo. Iniciando com um plano monumental que envolveu mais de 5 mil extras, 18 câmeras e imagens em aceleração para prover uma impressão de ainda maior dinamismo (técnica aliás bastante utilizada na época), o filme sintetiza na figura de Yancey tudo o que representa a lei e o Sonho Americano – espírito empreendedor e desinteressado (nega a recompensa pela morte do ex-amigo e morre ele próprio como simples explorador pioneiro já em idade avançada), capaz de ocupar o posto de pastor, homem da lei e jornalista ao mesmo tempo. E na sua prole fica demarcada a distinção entre a herança paterna e materna: o filho se enamora de uma garota índia, algo que o pai aprovaria sem grandes restrições; já a filha, puxando a família materna, afirma que casará com um homem rico e branco. Com interpretações um tanto teatrais (sendo que a canastrice abissal do Yancey de Dix chama atenção em meio a um elenco equilibrado) e uma sonorização ainda algo capenga,  não se escusa em apelar para cartelas que possuem função não muito dissimilar do cinema mudo em vários momentos. Ao apresentar romanescamente a saga da família do último decênio do século XIX até o processo de industrialização/urbanização acelerada, antecipa elementos do que Assim Caminha a Humanidade (1956) fará partindo de onde aqui finda. Seu iluminado protagonista parece ser o único personagem que vislumbra em Kid um espelho da possibilidade de seu próprio fracasso, assim como Dixie Lee se rendendo à prostituição, quando qualquer mulher respeitável da cidade, incluindo a sua própria, talvez não tivesse tido outra chance numa sociedade eminentemente preconceituosa e misógina. O romance de Edna Farber voltaria a ganhar as telas em 1960 com Glenn Ford e Maria Schell nos papéis principais. RKO Radio Pictures. 123 minutos.

 

 

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