Filme do Dia: Violência e Paixão (1974), Luchino Visconti

 


Violência e Paixão (Gruppo di Famiglia in un Interno, Itália/França, 1974). Direção: Luchino Visconti. Rot. Original: Susu Cecchi D´Amico, Enrico Medioli & Luchino Visconti sob argumento de Medioli. Fotografia: Paqualino De Santis. Montagem: Ruggero Mastroianni. Dir. de arte: Mario Garbuglia. Cenografia: Carlo Gervasi. Figurinos: Vera Marzot, Yves St. Laurent & Piero Tosi. Com: Burt Lancaster, Silvana Mangano, Helmut Berger, Claudia Marsani, Stefano Patrizi, Elvira Cortese, Romolo Valli, Margherita Horowitz.

Um velho professor recluso (Lancaster) acaba se envolvendo com uma nobre com espírito de nova-rica, a Marquesa Bianca Brumonti (Mangano) que decide fincar a decisão de comprar o imóvel no andar superior a sua moradia. Inicalmente reticente, o professor se enreda nas peripécias de Konrad Huebel (Berger), amante da marquesa, sua filha Lietta (Marsani) e o namorado Stefano (Patrizi). Em sua solidão, o professor projeta na figura de Konrad, marginal porém grandemente sensível à arte, a figura de um filho que nunca teve. E cuida dele no momento que é atacado por figuras do submundo das drogas. Numa noite em que todos jantam com o professor, a aparente tranqüilidade após tantas convulsões desencadeia a maior crise, em que Konrad afirma que denunciou o marido de Bianca por atividades ligadas com o assassinato de comunistas, daí sua fuga precipitada do país e decide romper de vez seus laços com a família. Pouco tempo depois, envia um bilhete de despedida para o professor e se suicida no pavimento superior.

Esse que é o verdadeiro filme-testamento do cineasta (que ainda realizaria o anêmico O Inocente, posteriormente) se torna marcante, sobretudo, menos pela bem cuidada direção de arte que se sobressai nos seus épicos grandiosos e históricos, notadamente O Leopardo, que por uma incursão intimista na nostalgia e esperança derradeira de seu protagonista, mais profunda e tocante que o personagem semelhante vivido por Lancaster no épico histórico. Aqui se traça com maestria o retrato de um homem já resignado por sua solidão que se vê novamente despertado para a vida através do contato com seus novos e confusos vizinhos e com uma geração a qual embora não se identifique – flagra a certo momento uma cena de erotismo de Lietta e seu namorado com o amante da mãe – , não deixa de ser simpático. Porém tal retorno para a vida, proclamado com um pouco de antecendência pelo professor para seus vizinhos, quando lhes afirma que os sente como membros de uma família com todos os problemas daí decorrentes, para além do trivial que é apresentado nos dramas sentimentais do cinema, tampouco deixa de ser decepcionante, pois suas idealizações demonstram serem bastante discordantes da realidade. Nesse sentido vai sua idéia da união inseparável do trio, que é escarnecida pelos próprios jovens e, ainda mais fatalmente, o suicídio de Konrad e a partida da família Brumonti, numa sensível percepção de que é impossível não ser afetado de modo inesperado quando se decide trocar a segurança dos livros por relações afetivas e sociais concretas. Muito da eficácia do filme deriva da interpretação luminosa de Lancaster e também bastante feliz de Mangano e de Marsani, em sua estréia no cinema. O que infelizmente não se aplica a Berger, na sua por demais evidente encarnação de anjo exterminador, capaz de atrair a todos por seu excesso de vitalidade que finda por sucumbi-lo. Evidentementemente há um que de homo-erótico na relação do professor com Konrad, que não deixa de ser explicitado ironicamente pela Marquesa. Uma versão italiana de uma canção de Roberto Carlos não creditada, Testrada Io (na seqüência de amor à três) compõe juntamente com peças de Mozart a trilha incidental do filme. Claudia Cardinale e Dominique Sanda fazem pontas não creditadas em flashbacks como mulher e mãe do professor respectivamente. Rusconi Film S.P/Gaumont Int. 121 minutos.

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