O Dicionário Biográfico de Cinema#306: Harrison Ford



 Harrison Ford, n. Chicago, 1942

Há um ator na história do cinema que tenha angariado mais dinheiro? Harrison Ford estrelou em três filmes de Indiana Jones; ele interpretou Hans Solo três vezes; é parte de American Graffiti [Loucuras de Verão]; e um protagonista em tais sucessos definidos como Witness [A Testemunha], Working Girl [Uma Secretária do Futuro] e The Fugitive [O Fugitivo]. Ele tem sido uma presença constante nos últimos vinte e cinco anos, no cinema e no vídeo, um herói inquestionado a milhões de crianças em todo o mundo. Por outro lado, nunca tive o sentimento que Ford venceu - ou muitas vezes quis vencer - o amor das massas. Há uma distância em torno dele, uma paciência contida e gelada que parece cautelosa em ultrapassar seus limites conhecidos. Nas poucas ocasiões de ousadia na carreira de Ford, revelou-se um ator limitado e ansioso. Se Mosquito Coast [A Costa do Mosquito] (86, Peter Weir) e Regarding Henry [Uma Segunda Chance] (91, Mike Nichols) tiverem sido suas maiores provações, então, Ford mal se atreveu a competir. Em  A Costa do Mosquito nunca chegou perto do charme insano e fascista do personagem; enquanto, como Henry, contentou-se com um pathos lamentavelmente superficial. 

Frequentou o Rippon College, em Wisconsin, e foi direto para Hollywood e contratos com a Columbia e Universal. Esteve em desenvolvimento por uma década completa, na TV e em pequenos papéis no cinema: Dead Heat on a Merry-Go-Round [O Ladrão Conquistador] (66, Bernard Girard); Luv [Essa Coisa, o Amor] (67, Clive Donner); A Time for Killing [A Grande Cilada] (67, Phil Karlson); Journey to Shiloh [Seis Não Regressaram] (68, William Hale); The Intruders (70, William Graham); Getting Straight [À Procura da Verdade] (70, Richard Rush); American Graffiti [Loucuras de Verão] (73, George Lucas), no qual foi um dos mais notáveis rostos novos; memorável como o auxiliar de terno cinza em The Conversation [A Conversação] (74, Francis Ford Coppola). 

Star Wars [Guerra nas Estrelas] (77, Lucas), mudou o seu status. Ainda assim, Ford raramente parecia suscetível à  autoconfiança. Continuou a realizar filmes esquecíveis quando seu poder cresceu: Heroes [Heróis Sem Causa] (77, Jeremy Paul Kagan); The Possessed (77, Jerry Thorpe) para a TV; Force 10 for Navarone [Os Canhões de Navarone] (78, Guy Hamilton); Hanover Street [Amor em Chamas] (79, Peter Hyams), onde não demonstrou instinto para o romance; pequenas pontas em Apocalipse Now (79, Coppola) e More American Graffiti [E a Festa Acabou] (79, B.L.W. Norton); e The Frisco Kid [O Rabino e o Pistoleiro] (79, Robert Aldrich). 

Foi nos idos dos anos 80 que se tornou um fenômeno passivo, apesar de claramente apreciar o papel de Indiana Jones e emprestar um agradável humor auto-depreciativo: The Empire Strikes Back [O Império Contra-Ataca] (80, Irvin Kershner); Raiders of the Lost Ark [Os Caçadores de Arca Perdida] (81, Steven Spielberg); Blade Runner [Blade Runner - O Caçador de Andróides] (82, Ridley Scott), seu melhor filme até o momento e ajudado pela disposição de Ford de ser duro e desleixado; Return of the Jedi [O Retorno de Jedi] (83, Richard Marquand); e Indiana Jones and the Temple of Doom [Indiana Jones e o Templo da Perdição] (84, Spielberg). As necessidades diretas de Witness [A Testemunha] (85, Peter Weir, 85), couberam-lhe muito bem, e as cenas de amor com Kelly McGillis foram tocantes. Em Frantic [Busca Frenética] (88, Roman Polanski), correu por aí sem chegar a lugar nenhum - e estava ficando claro que lhe crescia um olhar ansioso - como o de Gary Cooper. Working Girl [Uma Secretária de Futuro] (88, Mike Nichols), teve-o como o menos ativo segmento de um triângulo, mas sua comicidade foi hábil. Em Indiana Jones and the Last Crusade [Indiana Jones e a Última Cruzada] (89, Spielberg), beneficiou-se da presença de Sean Connery.

Em Presumed Innocent [Acima de Qualquer Suspeita] (90, Alan J. Pakula) intensificou o clima geral de falta de alegria. Em Regarding Henry [Uma Segunda Chance] parecia apenas cumprir o papel. Patriotic Games [Jogos Patrióticos] (92, Phillip Noyce) foi mais uma evidência da expressão de provação em seu rosto. Foi novamente Indiana Jones em um episódio da série de TV Young Indiana Jones [O Jovem Indiana Jones] (93, Carl Schultz). Quanto a The Fugitive [O Fugitivo] (93, Andrew Davis), fez seu habital papel sólido, mas o filme e sua implausibilidade, deve muito de sua tempestuosa energia a Tommy Lee Jones. Ford pode ser um super-astro, mas ele já carregou um filme?

No geral, decaiu nos anos 90 - particularmente em Sabrina (95, Sydney Pollack), The Devil's Own [Inimigo Íntimo] (97, Pakula), Six Days, Seven Nights [Seis Dias, Sete Noites] (98, Ivan Reitman); Random Hearts [Destinos Cruzados] (99, Pollack) e What Lies Beneath [Revelação] (00, Robert Zemeckis), que é muito especial. Mas em Air Force One [Força Aérea Um] (97, Wolfgang Petersen) ele realiza toda a maluca aventura - parece carregar a própria aeronave. É um russo em K19: The Widowmaker (02, Kathryn Bigelow) - por 25 milhões de dólares. Então fez Hollywood Homicide [Divisão de Homicídios] (03, Ron Shelton).

Tem falado em se aposentar - recusou Traffic [Traffic - Ninguém Sai Limpo], Syriana [Syriana - A Indústria do Petróleo] e The History of Violence [Marcas da Violência] - mas fez Firewall [Firewall: Segurança em Risco] (06, Richard Loncraine); Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull [Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal] (08, Spielberg); Crossing Over [Território Restrito] (09, Wayne Kramer); Extraordinary Measures [Decisões Extremas] (10, Tom Vaughan); Morning Glory [Uma Manhã Gloriosa] (10, Roger Michell); Cowboys & Aliens (11, Jon Favreau); excelente e rabugento como Branch Rickey em 42 [42: A História de uma Lenda] (13, Brian Helgeland); Paranoia [Conexão Perigosa] (13, Robert Luketic); Ender's Game [Ender's Game: O Jogo do Exterminador] (13, Gavin Hood).

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 927-29.


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