Filme do Dia: Uma Loira com Açúcar (1941), Raoul Walsh

 


Uma Loira com Açucár (The Strawberry Blonde, EUA, 1941). Direção: Raoul Walsh. Rot. Adaptado: Julius G. Epstein & James Hagan, a partir de peça de James Hagan. Fotografia: James Wong Howe. Música: Heinz Roemheld. Montagem: William Holmes. Dir. de arte: Robert M. Haas. Figurinos: Orry-Kelly. Com: James Cagney, Olivia de Havilland, Rita Hayworth, Alan Hale, Jack Carson, George Tobias, Una O’Connor, George Reeves, Lucile Fairbanks.

Anos 1890. Biff Grimes (Cagney) é um rapaz de origem popular, que sonha em ser dentista e que tem um pai (Hale) fanfarrão e namorador, que vive sendo demitido dos locais em que trabalha. No bairro todos só tem olhos para a bela e insinuante Virginia Brush (Hayworth), inclusive Biff e o seu amigo mais despachado e ambicioso, Hugo Barnstead (Carson) que, no entanto, ao contrários de todos os rapazes que frequentam a barbaeria do amistoso Nick (Tobias), toma a iniciativa de cortejá-la. Ele leva Briff consigo, mas para ele “sobra” a enfermeira sem sal Amy (de Havilland). Logo Biff fica sabendo do casamento de Hugo com Virginia e inicia uma relação com Amy. Já casados, são surpreendidos com um convite de jantar na mansão dos Barnstead. Lá Hugo convida Biff para se tornar vice-presidente de sua empreiteira, apenas buscando se aproveitar da ingenuidade do amigo para usa-lo com testa de ferro para seus negócios escusos. Quando o material de má qualidade de uma das construções efetuadas pela empreiteira de Hugo vem abaixo, matando inclusive o pai de Biff que se encontrava no canteiro de obras, será esse que irá para a cadeia por 5 anos, já que assinava todos os papéis. Na prisão progride em seus estudos como dentista. Quando já se encontra livre, procurando se estabelecer no campo profissional que gosta, haverá um novo contato com o casal Virginia e Hugo.

Embora não exatamente um exercício de sutileza em termos de concentração narrativa – um ex-amigo do protagonista, recém-lembrado por conta da música que é tocado no vizinho, liga para sua casa a procura de seu auxílio como dentista, Walsh, no entanto, extrai todo o vigor da situação. A partir de então o filme sucumbe a um flashback um tanto enjoativo que vai apresentar, talvez se prolongando um tanto excessivamente; os momentos em que os rapazes encontraram as moças, para se tornar interessante apenas muito tempo depois, já próximo de reatar com o momento presente em que a história ocorre. A ousadia nas falas, faz com que Virginia, que havia beijado Biff em uma estratégica falta de energia na mansão dos Barnstead, insinue que o marido não consegue ir além de um coito por noite. Aliás, nesse quesito, ousadias não muito veladas à parte, o filme segue a risca o paternalismo na apresentação dos personagens que são verdadeiramente fieis às suas origens humildes como os bons de caráter, ao ponto de Biff poder enfrentar fisicamente os vizinhos de melhor posição social, com a complacência de sua esposa (e do próprio filme), em uma demonstração de virilidade associada à docilidade da esposa que, quando do conhecimento das duas duplas, finjia ser liberal, quando, na verdade, a fingidamente pudica é quem possui laivos de uma sexualidade nada ajustada aos princípios da domesticidade familiar – o casal tampouco possuindo filhos, algo que se sabe ao final que a angelical Amy se encontra à espera. Que fineza não se improvisa, é evidente e o casal novo-rico o demonstrará não sabendo comer a novidade do espaguete italiano tampouco quanto os caipiras Biff e Amy. A produção não poupou na configuração do elenco, papeis adequados as personas de suas estrelas femininas, com a dócil Havilland encarnando Amy com seu sorriso de bonomia usual, mais maternal que sexual, proveniente do clássico ...E O Vento Levou em contraposição ao futuro furacão sexual ainda não plenamente valorizado de Hayworth, cuja parceria com Charles Vidor, embora já existente no período, somente esquentaria de fato alguns anos após. Embora novidades tecnológicas do período retratado como o automóvel e a luz elétrica sejam evocados, o mesmo não se dá em relação a qualquer dispositivo de imagens em movimento. Una O’Connor tem uma modesta ponta como uma das mulheres assediadas pelo pai de Biff quando os respectivos maridos se encontram trabalhando e apesar de recusar seus avanços, não os recusa com demasiada ênfase e fala bem dele para outras vizinhas.  Warner Bros. 99 minutos.

 

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