O Dicionário Biográfico de Cinema#215: Peter Weir

 


Peter Weir, n. Sydney, Austrália, 1944

1967: Count Vim's Last Exercise (c); 1968: The Life and Times of the Reverend Buck Shotte (c). 1970: "Michael", um episódio de Three to Go. 1971: Homesdale (d). 1972: Incredible Floridas (c) (d). 1973: Whatever Happened to Green Valey? (d). 1974: The Cars That Ate Paris [Confusão em Paris]. 1975: Picnic at Hanging Rock [Piquenique na Montanha Misteriosa]. 1977: The Last Wave [A Última Onda]. 1978: The Plumber [O Encanador]. 1981: Gallipoli. 1983: The Year of Living Dangerously [O Ano que Vivemos em Perigo]. 1985: Witness [A Testemunha]. 1986: The Mosquito Coast [A Costa do Mosquito]. 1989: Dead Poets Society [A Sociedade dos Poetas Mortos]. 1990: Green Card [Green Card: Passaporte para o Amor]. 1993: Fearless [Sem Medo de Viver]. 1998: The Truman Show [O Show de Truman: O Show da Vida]. 2003: Master and Commander: The Far Side of the World [Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo]. 2010: The Way Back [O Caminho da Liberdade].

Weir possui uma atitude incomumemente sedutora para uma atmosfera de ameaça e mistério, frequentemente vinculada a locais estranhos e desolados. Ama esta aproximação do oculto, quando a encontra perfeitamente na paisagem. Mas quão trivial se torna quando tenta explicar estes humores transbordantes. A primeira parte de Piquenique na Montanha Misteriosa é requintada; A Última Onda nunca deixa de - ou avança em- ser uma grande ideia para um filme; a Indonésia desvelada em O Ano Que Vivemos em Perigo é fascinante; e a comunidade Amish em A Testemunha clama em se sobrepor à imagem.

Mas as tramas ganham preferência e os filmes se tornam desajeitados e convencionais. Sem aqueles lugares sedutoramente enigmáticos e admiráveis, Weir se apresentou com decência lugar-comum em Gallipoli e A Sociedade dos Poetas Mortos, filmes de causas dignas. A grande falha de sua carreira é A Costa do Mosquito, aparentando um tema ideal, no qual Paul Theroux lhe proporcionava motivações de inquietação e locações como boa estrutura. Mas Weir não conseguiu ver que o projeto estava além de Harrison Ford e ele trouxe uma confusão muda ao invés de uma Família Suiça Robinson (*).

Sem Medo de Viver foi um típico projeto de Weir. Quem ficaria tão fascinado pela sensação de um desastre aéreo e o deslocamento do luto? A primeira metade é deslumbrante, mas gradualmente o filme sucumbe aos problemas de desenvolvimento do roteiro e resolução fácil.

Então, quem estava preparado para O Show de Truman, que considero como um dos grandes filmes americanos, equilibrado magicamente entre a farsa e o horror, uma exploração única e antecipação da natureza da América e suas fantasias - e, em muitos aspectos, um retrato do cinema? Dou bastante crédito a Andrew Niccol (que o escreveu), a Jim Carrey e Ed Harris, que fizeram papéis humanamente complicados. Mas para Weir, e todos nós, era como um homem se afastando de toda sua carreira e seu meio - como se dissesse, isto tem que ser dito.

Embora nunca tenha encontrado um grande público, Mestre dos Mares estava apaixonado pelo oceano e pela vida nele - mas não foi fácil observar porque o realizador de Sem Medo de Viver e O Show de Truman estava pronto a tantos anos para trazer tais detalhes. O Caminho da Liberdade foi o mais negligenciado dos filmes de Weir, mas é um majestoso épico de uma jornada, que somente é explicada pelo fato dos prisioneiros irem da neve profunda do deserto aos verdejantes campos de chá do norte da Índia. A tempo, este filme precisa ser redescoberto, e então fará parte da intuição que Weir se encontra na grande tradição dos realizadores de aventuras, nas quais se poderia incluir uma viagem ao interior da América em O Show de Truman, assim como à resistência física de O Caminho da Liberdade.

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014,  pp. 2798-800

N. do E: (*) romance de Johann David Wyss, publicado originalmente em 1812. 

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