Filme do Dia: Renegando o Meu Sangue (1957), Samuel Füller
Renegando o Meu
Sangue (Run of the Arrow, EUA, 1957). Direção e Rot. Original Samuel
Füller. Fotografia Joseph F. Biroc. Música Victor Young. Montagem Gene Fowler
Jr. Dir. de arte Albert S. S’Agostino & Jack Okey. Cenografia Bertram C. Granger. Com Rod Steiger, Sara Montiel, Brian
Keith, Ralph Meeker, Jay C. Flippen, Charles Bronson, Olive Carey, H.M. Wynant.
Atormentado
pelos traumas da Guerra da Secessão recém-finda, e ressentido com os yankees,
O’Meare (Steiger) se despede de sua mãe (Carey) com uma tensa conversação, rumo
ao Oeste distante. Ele conhece o desgarrado Walking Coyote (Flippen), um Sioux
aculturado e ambos são testados em uma prova de corrida mortal, da qual se diz
nenhum homem branco ter sobrevivido. O’Meare é acolhido pela índia Yellow
Moccasin (Montiel), com quem é casado após recuperado, renegando sua cultura
americana, reafirmando sua luta contra a unificação do país. Quando o Capitão
Clark (Keith), surge com seus yankees e a ideia de construir um forte em
pleno território indígena, quem é escolhido para negociar com os brancos é
justamente O’Meare. Porém Clark, figura pacificadora e amigo de O’Meare é morto
pelos índios, e ascende à liderança o belicoso Driscoll (Meeker).
Chega a ser
bonita, de tão avassaladoramente constrangedora e pouco naturalista que é a
cena do diálogo entre filho e mãe, escutados por uma série de locais
impassíveis. As liberdades na representação dos corpos masculinos indígenas é
bem maior que suas contrapartes femininas, com vestidos longos que chegam aos
pés. Evidentes sinais de mudança e ajustamento à nova ordem nacional, quando se
despede efusivo do Capitão Clark, logo vítima de um índio não cumpridor do
pacto recém-elaborado. Driscoll, seu substituto, é a caricatura viva da empáfia
americana, charuto entre os lábios e sorriso de superioridade em uma postura de
agressividade destituída de diálogo. Jay
C. Flippen é um dos melhores ativos trazidos pelos filme. Flippen é um ator
característico, antecipador de certa verve permeada por uma experiência de vida
sofrida, tal como virá a ser encarnada, em contexto histórico posterior, por
nomes como Warren Oates. O sucesso angariado por Sarita Montiel no mundo de
língua hispânica (México, Espanha, e os países latinos consumidores de seus
filmes) parece ter sido tanto, a catapulta-la para o protagonismo feminino em
tal produção hollywoodiana, longe de ser exatamente um filme A, mas tampouco de
sê-lo B, demonstrado pelo uso de cores, nomes promissores no elenco principal e
de apoio, um razoável mini-exército de extras e várias cenas de procissão
yankee avançando sobre o território índio, além, é óbvio, de sua duração. A
cena final do massacre dos cavaleiros por índios certamente provocou a maior
dor de cabeça para Füller. Em termos de encenação, bem entendido. Ao mesmo
tempo observamos lideranças mais precavidas de ambos os lados serem solapadas
pela impetuosidade de outras mais jovens (e imaturas). E a última caravana
observada pelo filme é a dos derrotados yankees, mas também a de
O’Meere, um pouco a contragosto, assumindo a bandeira americana como a sua, com
uma narrador extemporâneo afirmando ser o rendimento de Lee nunca a derrota do
Sul, mas sim o nascimento dos Estados Unidos e – mais interessantemente – jogando
com a ideia, escrita sobre a imagem, de que “este final somente pode ser
escrito por você”. | Globe Enterprises para RKO Radio Pictures. 81 minutos.

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