Filme do Dia: O Intendente Sansho (1954), Kenji Mizoguchi
O Intendente Sansho (Sanshô Dayû, Japão, 1954). Direção:
Kenji Mizoguchi. Rot. Adaptado: Fuji Yahiro & Yoshikata Yoda, baseado no
conto homônimo de Ogai Mori. Fotografia: Kazuo Miyagawa. Música: Fumio
Hayasaka, Tamekishi Mochizuki & Kanahichi Odera. Montagem: Mitsuzô Miyata.
Dir. de arte: Kisaku Ito & Shozaburo Nakajima. Com: Kinuyo Tanaka, Yoshiaki
Hanayagi, Kyôko Kagawa, Eitarô Shindô, Akitake Kôno, Masao Shimizu, Ken
Mitsuda, Kazukimi Okuni, Masahiko Kato, Keiko Enami.
No Japão medieval, Zushiô (Kato) e
Anju (Enami) foram separadas desde cedo dos pais. O pai, governador que possuía
excessiva compaixão com os desvalidos foi acusado de fraqueza e partiu para o
exílio. Antes de partir, no entanto, deixou com os filhos uma mensagem que eles
devem sempre acreditar em um ser humano livre.
A mãe parte com eles e alguns empregados, mas acaba sendo enganada e
separada dos filhos por cruéis camponeses que ficam com os filhos para venderem
como escravos. Estem ficam nas mãos do irascível intendente Sanshô (Shindô).
Com o passar do tempo os agora jovens Zushiô (Hanayagi) e Anju (Kagawa) tendem
a divergir do comportamento de Zushiô, que se torna o empregado predileto de
Sanshô, aprisionando e torturando todos os homens que tentatavam fugir. Anju
ainda sonha em encontrar os pais, Zushiô se torna crescentemente rígido e pouco
afeito a lembrar o passado. Certo dia, no entanto, quando se afastam com uma
escrava que não mais serve ao trabalho por ordens de Sanshô, Zushiô decide
fugir. A irmã, que havia ficado para não despertar maiores atenções, decide se
afogar. Zushiô comove Fujiwara (Mitsuda), o líder, que decide transformá-lo em
governador da mesma província tal e qual o pai. Zushiô decreta a libertação dos
escravos e a detenção de Sanshô, porém descobre a morte da irmã e parte em
busca da mãe. A encontra em uma aldeia miserável.
A licença poética de se tratar de um
conto inspirado no folclore nipônico parece ter mais atrapalhado que auxiliado
Mizoguchi, já que aqui ele não demonstra a mesma perspicácia para descrever os
elementos marginais no período medieval que são comuns em seus filmes com o
mesmo rigor e a mesma sensibilidade para enquadrá-los dentro de um complexo
sistema social. Tudo parece soar mais regido pelas leis do melodrama. Se a narrativa é bem
mais contida que a de um contemporâneo como Kinoshita (Sublime Dedicação), o modo como a narrativa e, sobretudo, como seu
protagonista sobe e desce na escala social acaba sendo menos devedora de
conseqüências sociais mais amplas, como fora o caso do pai, que da boa vontade
e comoção do primeiro ministro ou do próprio senso de altruísmo ou idealismo de
Zushiô. Nesse ponto, certas mudanças súbitas, tais como o momento em que Zushiô
decide não mais compactuar com o “sistema”, parecem subliminarmente
influenciadas por um certo tom freudiano – é a partir do momento em que realiza
uma atividade de criança com a irmã, descrita no prólogo do filme, que será
efetivada sua tomada de consciência. Nunca o humanismo liberal de Mizoguchi se
demonstrou tão enfático como aqui, mesmo que o caráter específico da opressão
feminina, um de seus temas favoritos, não ganhe maior destaque. O universo dos
excluídos e párias no Japão antigo, tema comum na filmografia de
Mizoguchi, receberia um tratamento mais
moderno, distanciado e seco na produção posterior de Kobayashi. A mesma fonte literária serviria a uma
animação realizada em 1961, dirigida por Taiji Yabushita. Leão de Prata no
Festival de Veneza. Daiei Studios. 120
minutos.

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