Filme do Dia: A Segunda Viagem Triunfal (1940), Paulo de Brito Aranha
A Segunda Viagem Triunfal (Portugal,
1940). Direção: Paulo de Brito Aranha.
O adjetivo empregado no título bem resume o que se pode esperar desse filme de propaganda oficial do regime salazarista que faz um apanhado de registros da turnê do então presidente da República, General Carmona, por suas colônias africanas. São sempre multidões a recepciona-lo e normalmente os colonos portugueses tem protagonismo na imagem, embora os africanos também surjam em manifestações diversas de apoio e celebração dos colonizadores, executando instrumentos e danças musicais típicas. Um orador entusiasmado, afirma em Lourenço Marques, que lá também é Portugal. As centenas de crianças fazendo manifestações coletivas e orquestradas em um estádio, todos de branco, parecem ser uma reprodução em escala menor das observadas em O Triunfo da Vontade, de Riefensthal, produção certamente assistida por Aranha, por mais que aqui se trabalhe com uma concepção de documentário bem mais clássica, em que o áudio se equilibra entre uma voz over típica e ruídos pós-sincronizados em péssimo trabalho de dublagem. E os altos dignitários da Igreja, ganham também seu protagonismo sob forma de discurso. Nos bailes noturnos, celebra-se o louvável guarda-roupa das senhoras e senhoritas. A volumosa primeira-dama cabe o papel de bemfeitora habitual das criancinhas. As multidõs entusiastas, torna-se indistinta junto ao carro do presidente quando de sua partida para o cais e a saída de Lourenço Marques. Antes disso, a noite se observa a iluminação decorativa e festiva de vários locais. Uma visita aos bairros onde moram os indígenas, certamente não entra em pauta. Em cada uma das grandes localidades, um monumento é erigido para sua passagem. Uma das surpresas é o desfile com uma quantidade enorme de carros alegóricos, a destacar os produtos e as indústrias moçambicanos destacados. Em dois deles, chega-se ao requinte de simular o movimento das rotas de uma locomotiva e das hélices de um avião. Pontuado por aberturas e fechamento em íris ou cortinas de efeito bastante chamativo, a ressaltar passagem para momentos distintos da viagem. Embora não observadas com relativa frequência, as saudações fascistas ao líder português, em nada distinta das nazistas, braços ao alto, surgem aqui e acolá. Viagens à Pretória e a Cidade do Cabo, cidades de um país (sob regime colonial britânico) francamente aliado do governo português. Uma das imagens mais inusitadas vem próximo ao final, quando um grupo de meninos de tenra idade desfila fardando e fazendo gestos de continência e de saudação fascista a Carmona e as autoridades no palanque. Ao final, a última imagem é de Carmona sendo abraçado por Salazar, restando ao ditador uma participação módica e, ao mesmo tempo, nada desgastante em termos de imagem, junto ao espectador, que segue um trecho em que se observa uma síntese das recepetvidades gloriosas que Carmona teve nas colônias africanas, nada distante dos flashbacks emotivos das lembranças de algum personagem em um filme ficcional. SPAC. 70 minutos.
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