Filme do Dia: Cortina de Fumaça (1994), Wayne Wang
Cortina de Fumaça (Smoke, EUA/Alemanha, 1994) Direção:
Wayne Wang. Rot.adaptado: Paul Auster, baseado em sua própria obra. Fotografia: Adam
Holender. Música: Rachel Portman&Tom Waits. Montagem: Maysie
Hoy&Christopher Tellefson. Com: William Hurt, Harvey Keitel, Harold Perinau
jr., Victor Argo, Erica Keitel, Giancarlo Esposito, Clarice Taylor, Forest Whitaker.
Auggie (Keitel) é dono de uma
tabacaria no village nova-iorquino. Muitas pessoas da redondeza frequenta-na,
desde desocupados até tipos excêntricos como o escritor Paul (Hurt). Um dia,
quando vai saindo da tabacaria anda em direção a um carro quando é salvo por um
jovem negro que diz se chamar Rashid (Perinau jr.). Paul oferece hospedagem a
ele, que recusa-a, porém acaba aparecendo alguns dias depois, que concorda com
que ele permaneça dois dias. Lá deixa um pacote entre os livros. Posteriormente
uma tia sua aparece e conta a Paul a verdade: ele se chama Thomas Jefferson,
soube a pouco tempo que o pai que abandonara-o quando criança trabalha em um
posto de gasolina e se encontra muito desorientado. Rashid/Thomas/Paul (nome
que deu a seu pai) peregrina até o posto de gasolina, para quem passa a
trabalhar e descobre o pai novamente casado e com um filho pequeno. O braço
amputado é consequência do acidente automobilístico que teve como consequência
também a morte da mãe de Thomas. Logo Thomas foge e aparece no apto. de Paul
com um televisor de seu pai - Paul como todo bom intelectual não possui um
aparelho e agora terá como assistir as partidas de beisebol. Conta a Paul a
origem do saco entre os livros: seis mil doláres de um assalto praticado por um
marginal perigoso de seu bairro. Enquanto isso, Auggie tem que lidar outra vez
com uma ex-amante sua, que diz tido uma filha com ele, que agora já é
adolescente e viciada em crack. Consegue arrastar Auggie até lá, sendo ambos
muito mal-tratados pela jovem. Paul certa noite tem seu apto. invadido pela
gangue do marginal. Felizmente Thomas percebe e chama a polícia. Paul aparece
todo quebrado na tabacaria de Auggie e diz que há dois meses não tem notícia de
Thomas. Auggie que tivera um prejuízo imenso após admitir Thomas como empregado
- ele deixara a pia aberta e estragara um lote de charutos cubanos enquanto
folheava uma revista pornô, e que acabara aceitando o dinheiro roubado de Thomas,
está agora em boa situação finançeira e arranja uma grande soma em dinheiro
para a ex-amante, que afirma finalmente que não sabe se a filha é sua. Thomas
se encontra no posto e prepara-se para um piquenique com seu pai e sua nova
família quando chegam Auggie e Paul, que fazem com que revele sua verdadeira
identidade. Após um momento de descontrole emocional, seu pai Cyrus (Whitaker)
e todos os outros permanecem em silêncio. Algum tempo depois Paul foi convidado
pelo N.Y.Times para escrever um conto
de natal e afirma que se encontra pouco inspirado para Auggie. Auggie afirma
que conhece uma boa histórica, verídica, que aconteceu com ele. Propõe-se a
contar desde que Paul pague-lhe um almoço.
O filme é um dos grandes achados do
cinema independente americano dos anos 90. Embora tendo como força maior os
diálogos e um roteiro muito perspicaz em retratar com certa ironia e humor os
tipos que lida, nunca caindo na indulgência cínica, apresenta também cenas
visualmente poéticas como a de um trem atravessando o espaço urbano e as fotos
de Auggie. Aliás, essa é uma das sequências mais interessantes: certo dia
Auggie revela um segredo a Paul. Todo dia às 8 da manhã tira fotos do mesmo
local, em frente à tabacaria. Possui um acervo de cerca de 4 mil fotos. Como um
meticuloso pede que Paul analise as
fotos mais detidamente e perceba que não são todos iguais. Após um tempo Paul ewncontra
entre muitos flagrantes do cotidiano um que particularmente lhe toca: uma foto
da esposa falecida indo compenetrada para o trabalho. Uma das sequências mais
divertidas é a final, quando ao som de um antigo blues surgem em p&b as
imagens do conto de natal de Auggie. Com este filme, Wang&Auster
conseguiram uma singular demonstração de criatividade ao lidar com os mais
banais temas do cotidiano, sem ter que carregarem a mão em artifícios
modernosos em voga. Magistral trabalho dos atores, em especial Hurt e,
principalmente, o carismático Auggie vivido por Keitel. Outro charme do filme é
descentralizar o papel do protagonista, seguindo vários personagens como Paul,
Auggie e Thomas. Os sketches se sucedem com uma mescla diversificada de
personagens e com um humor sutil que explora de forma lúdica e com bom senso de
timing, a expressividade e o gestual dos atores. Pena que o trabalho
seguinte da dupla Wang&Auster, centrado agora na descrição dos tipos que
frequentam a tabacaria, tenha sido menos inspirado. Um filme à margem do
horrendo panorama atual do cinema americano, onde predominam thrillers
com muito sangue e filmes-catástrofe de um lado e filmes de arte
"sensíveis" do outro, com fórmulas tão ou mais batidas que as dos
primeiros. Eurospace/Internal/Miramax Films/NDF/Smoke Productions. 112 minutos.

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