Filme do Dia: Direito de Morrer (1983), George Schaefer
Direito de Morrer (Right of Way, EUA,
1983). Direção George Schaefer. Rot. Adaptado Richard Lees, a partir de sua
própria peça. Fotografia Howard Schwartz. Música Brad Fiedel. Montagem Sidney
Katz. Dir. de arte John E. Chilberg II. Figurinos Noel Taylor. Com Bette Davis,
James Stewart, Melinda Dillon, Priscilla Morrill, John Harkins, Jacque Lynn
Colton, Louis Schaefer, Charles Walker.
O casal de idosos Mini (Davis) e Teddy
Dwyer (Stewart) chama a filha, Ruda (Dillon), moradora de outro estado, para
lhes comunicar sobre o desejo de deixarem de viver. A proposta é recebida com
apreensão por Ruda, ao mesmo tempo que o serviço público do condado onde moram
se encontra chocado com as más condições da residência na qual vivem, e o caso
ganha repercussão midiática.
É constrangedor observar esta dupla de
luminares do cinema clássico estadunidense em um melodrama algo rotineiro para
a tela pequena. Suas estaturas dramáticas parecem tão diminuídas quanto a
dimensão da tela. Por outro lado, a efemeridade da motivação dramática teatral
e o ainda mais efêmero mercado televisivo também nos trazem uma oportunidade de
vê-los, assim como a atriz a interpretar a filha, menos atravessados pelo
controle de qualidade e maior tempo disponível para a produção de um filme para
o cinema, sobretudo dos filmes nos respectivos períodos áureos de suas
carreiras – uma tentativa, de toda forma, pode ser buscada, no caso de Davis,
ao compara-lo com Baleias de Agosto, lançado quatro anos após. Por
mais que o texto esteja comprometido por várias tiradas lugares-comuns e não
poucas nulidades, há uma sensibilidade peculiar na forma como retrata o laço de
incesto simbólico (chega a afirmar que nenhum homem lhe importara como o pai) a
unir uma família para sempre. E aí a presença de Dillon é mais interessante que
algumas vicissitudes trazidas pelos cacoetes dos monstros sagrados em final de
carreira (e de vida). E é particularmente tocante o momento no qual a
personagem de Ruda reconhece a dificuldade de aceitar visita-los, pois apesar
de sentir-se feliz em vê-los, há depois um enorme vazio ao se despedir – ela,
que sintomaticamente nunca conseguiu estabelecer uma relação duradoura já aos
seus 40 anos; no caso de Davis, irremediavelmente marcada tragicamente por sua
carreira desde O Que Terá Acontecido a Baby Jane? duas décadas antes. O
que um filme como Num Lago Dourado, com o qual possui seus pontos de
contato, não se atreve a avançar. Não neste quesito por necessidade, mas
qualquer afronta maior a visão estabelecida de família. Não necessariamente culpa apenas do filme, já
que igualmente baseado em uma peça, e também com duas sumidades do cinema
clássico. Tudo por cima de muito material sofrível e pouco sutil, como a
invasão do domicílio por agentes do condado, que nem mesmo se apresentam e já
vão tirando fotos e derrubando arranjos ou mexendo nas bonecas (algo também
impossível de não se associar com o filme de Aldrich) que representam muito
para os dois idosos. Na caracterização de sua solidão, há o batalhão de gatos
deles ou agregados a circularem pela propriedade e vizinhanças. E batizados com
nomes de astros de gerações posteriores a deles – James Caan, Bobby De Niro, Al Pacino, Robert Redford! E no plano formal, uma trilha musical grudenta, que se
espraia até mesmo aos créditos finais. Há até espaço para private jokes,
como a que Stewart identifica nos olhos de uma boneca recém-produzida pela
personagem de Davis, os seus olhos, quando o sucesso pop Bette Davis’ Eyes
havia sido lançado há pouco. No ano anterior, Davis já havia colaborado com
Schaefer em A Piano for Mrs. Cimino. Três finais foram filmados, e o
veiculado na TV não é o desta versão, lançado em outras plataformas de
distribuição, inclusive fazendo mais sentido em relação ao título brasileiro.
|HBO Premiere Films/Post-Newsweek Television/Schaefer-Karpf Prod. para HBO. 102
minutos.![]()

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