Filme do Dia: Duplo Suicídio em Amijima (1969), Masahiro Shinoda
Duplo Suicídio em Amijima (Shinjû: Ten no Amijima, Japão, 1969).
Direção: Masahiro Shinoda. Rot. Adaptado: Masahiro Shinoda, Tôru Takemitsu
& Taeko Tomioka baseado na peça de Monzaemon Chikamtsu. Fotografia:
Toichiro Narushima. Música: Tôru Takemitsu. Dir. de arte: Kiyoshi Awazu. Com:
Shima Iwashita, Hosei Komatsu, Kichiemon Nakamura, Shizue Kawarazaki, Yosuke Takita, Kamatari
Fujiwara, Yoshi Kato, Tokie Hidari.
No Japão do século XVIII, Tahei
(Komatsu) é um pequeno comerciante que cai em desgraça junto à família e a
sociedade ao se apaixonar pela prostituta Koharu (Iwashita), ao qual promete
redimir, mas que não possui dinheiro para tanto. Sua esposa, Osan (Iwashita)
escreve uma carta pedindo que Koharu se afaste do marido. Koharu, mesmo
apaixonada, decide inventar uma mentira para forjar seu distanciamento de
Tahei. Esse, por sua vez, acaba sendo pressionado pela família tanto dele
quanto dela para se afastar de Koharu. Ao saber dos sacrifícios que Koharu se
impusera para beneficiar sua esposa, Tahei e Osan se sentem tão culpados que
decidem penhorar tudo que possuem para redimi-la. O pai de Osan chega na
ocasião e decide levar a filha consigo. Desesperado, Tahei busca Koharu e
juntos se encontram dispostos a morrer por seu amor.
Baseado em uma peça de teatro bunraku
de 1720, esse filme é cheio de pequenos e felizes achados como escalar a mesma
atriz para fazer o papel tanto da prostituta quanto da esposa, como se fossem
apenas duas faces de uma mesma mulher e uma cenografia e movimentação em cena
que não esconde seu tributo a sua fonte teatral. Porém, mais que tudo, é a
associação entre os manipuladores de bonecos do teatro bunraku (aqui presentes
como figuras encapuzadas que ajudam na confecção e desmobilização do cenário ou
na apresentação de objetos para os personagens, como na cena crucial do
assassinato de Koharu) como metáfora para as imposições sociais limitadores
numa sociedade de rígidos códigos morais o grande trunfo do filme. Nesse
sentido, tal e qual os bonecos do teatro que lhes deu origem, as vontades
próprias do casal protagonista cedem diante de um dever moral perante aos
familiares. Shinoda parece ampliar o espectro da dominação dos códigos morais
castradores para além da condição feminina como havia sido enfatizado em outra
representação cinematográfica famosa da vida de uma prostituta pelo cinema
japonês, Oharu (1952), de Mizoguchi.
Aqui, os homens são tão vítimas quanto às mulheres da inflexibilidade das
regras morais e Tahei, que por sinal aparece chorando e humilhado com mais
freqüência que suas duas mulheres, não deixa de explicitar essa idéia a certo
momento. A presença em cena dos “manipuladores” também é reveladora do quanto o
cineasta pretende enfatizar que se trata de uma construção narrativa,
afastando-se do naturalismo de filmes como o de Mizoguchi. Para completar há
uma composição dramática dos atores que associada à maquiagem faz com que seus
rostos se transformem em verdadeiras máscaras, selando sua aproximação com o
teatro de bonecos. Ganhou os prêmios nacionais mais cobiçados e tradicionais,
Kinema Jumpo, nas categorias direção, atriz e diretor. Art Theatre
Guild/Hyogensha.142 minutos.
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