Filme do Dia: Aqueles Dois (1985), Sérgio Amon
Aqueles Dois (Brasil, 1985). Direção:
Sérgio Amon. Rot. Adaptado: Sérgio Amon & Pablo Vierci, baseado no conto de
Caio Fernando Abreu. Fotografia: César Charlone. Música: Augusto Licks.
Montagem: Sérgio Amon & Robert Henkin. Dir. de arte: José Artur Camacho,
Sayonara Ludwig & Marlise Storchi. Cenografia: Rubem Pechansky. Figurinos:
Marta Biavaschi. Com: Pedro Wayne, Beto Ruas, Suzana Saldanha, Maria Inês
Falcão, Oscar Simch, Carlos Cunha, Edu Madruga, Biratã Vieira.
Recém-contratado em entediante escritório repleto de pessoas medíocres, Saul (Wayne), que veio do interior para Porto Alegre, se sente um peixe fora d´agua. Aos poucos ele acaba se aproximando do colega de trabalho, Raul (Ruas), que depois de um relacionamento fracassado, como Saul, nunca mais voltou a viver nenhuma relação empolgante. O entusiasmo com a nova amizade, leva Saul a abandonar o caso que vinha mantendo com a também colega de escritório, Clara Cristina (Saldanha). A amizade dos dois passa a ser motivo de falatório de todos depois que Saul deixa cair uma fotografia em que aparece abraçado com Raul no escritório. Após uma mensagem anônima gravada na secretária eletrônica do patrão, Dr. André (Vieira), insinuando a relação entre ambos, os dois acabam sendo despedidos.
Assim como Verdes Anos, trata-se de outra produção do Grupo Z, gaúchos que
passaram a produzir longa-metragens na
década de 1980. O resultado final soa tão canhestro quanto a outra produção
citada, devido tanto as interpretações
amadoras do elenco quanto – e talvez ainda pior – a pouca profundidade dos
tipos que apresenta e o fácil maniqueísmo que contrapõe os dois protagonistas
como oásis de sensibilidade em meio a mediocridade dos que o circundam. O filme
parece, no final das contas, contaminando-se pelo excesso de culpa implícita em
sua narrativa, sendo o tema da homossexualidade mais uma resposta para a
insatisfação com uma existência medíocre com os
padrões de uma classe média embrutecida do que propriamente uma
afirmação da própria sexualidade de maneira plena. Assim, ao não se escusar em
apresentar algumas cenas de sexo envolvendo Saul e sua companheira de
escritório, enquanto que entre os dois protagonistas o que de mais explícito
ocorre é um abraço, tende a reproduzir inconscientemente a mesma repressão que
pretende criticar. Sua caricatura grotesca dessa classe média representada
principalmente na figura do chefe do escritório é de um ridículo involuntário,
embora pouco se questione sobre a possibilidade dessa mediocridade também se
encontrar embutida nos próprios protagonistas. Talvez a estrutura do conto de
Abreu fosse mais adequada para as telas no formato curta-metragem, como outros
contos seus já o foram, inclusive com melhores resultados, a exemplo de Sargento Garcia. O próprio conto de Maranhão foi adaptado para este formato, em
2018, por Émerson Maranhão. Porto
Produções/Roda Filmes/Z Produtora. 75 minutos.
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