Filme do Dia: Revoada das Águias (1941), Mitchell Leisen
Revoada das Águias (I Wanted Wings, EUA, 1941). Direção: Mitchell
Leisen. Rot. Adaptado: Richard Maibaum, Beirne Lay Jr. &
Sig Herzig, a partir do argumento de Eleanore Griffin & Frank Wead sobre o
livro de Beirne Lay Jr. Fotografia: Leo Tover. Música: Victor Young. Montagem: Hugh Bennett.
Dir. de arte: Hans Dreier & Robert Usher. Cenografia: Arthur Camp. Com: Ray
Milland, William Holden, Wayne Morris, Brian Donlevy, Constance Moore, Veronica
Lake, Harry Davenport, Phil Brown.
Jeff Young (Milland) entra como
aprendiz da Força Aérea e se torna próximo do imaturo Tom Cassidy (Morris) e Al
Ludlow (Holden), sendo que tanto Young quanto Ludlow são motivos de interesse
da fotógrafa Carolyn (Moore). Jeff rapidamente se sente emocionalmente
envolvido por Carolyn. Quando esta parte em viagem profissional, ele cai nos
braços da cantora de boate Sally (Lake), que Ludlow já conhecia de outros
tempos. Ludlow é dispensado da Força Aérea após um voo rasante que finda com
seu avião sendo vítima de um acidente. Ele se casa com Sally, pois essa
prometia fazer um escândalo sobre seu breve romance com Young. Carolyn, ao
saber de tudo, afasta-se de Young. Quando essa fica sabendo de tudo, os dois se
separam. Tempos depois, com Ludlow readmitido em função secundária na Força
Aérea, Sally reaparece com problemas e procurando não ser vista pelos colegas
de Ludlow se refugia no avião em que o grupo parte com o Capitão Mercer
(Donlevy), que iniciou a todos na arte de voar. Após um acidente provocado por
Sally, ocorre uma explosão que leva a expulsão do avião de Young e Mercer. Esse
fica gravemente ferido. Young, mesmo contra as ordens de seu superior, levanta
voo em situação precária, apenas para realizar um pouso forçado pouco após, que
provoca a morte de Sally. Um tribunal militar julga Young, que assume a culpa
pelo ocorrido, inocentando-o de ambas as acusações, sendo a primeira ter ido
contra as ordens de seu superior (em estado precário de saúde) e a segunda ter
assumido se encontrar consciente da presença de Carolyn no voo para tentar
livrar qualquer culpabilidade associada a Ludlow.
Mesmo quando está mais distante dos
extravagantes cenários e figurinos que eram comuns a algumas de suas produções
mais lembradas, Leisen não se dobra exatamente ao realismo que acabaria por
escantea-lo quando se tornou imperativo no pós-guerra. Aqui, importa menos a
guerra em si que os bastidores de três jovens iniciantes de piloto (um paralelo
poderia ser traçado com o contemporâneo italiano I 3 Aquilotti) e, evidentemente, o quanto se pode explorar em
termos de apelo sexual e relações “entre os gêneros”, assim como no convívio do
próprio gênero (o filme apresenta uma recatada versão da nudez no vestiário
masculino entrevisto no filme de Matolli, com os soldados de toalhas). Se é
verdade que o medo, sobretudo passível de ser compreendido quando associado aos
iniciantes, não transforma seus personagens automaticamente em heróis quando em
um filme de propaganda de guerra mais convencional, tampouco tal abordagem se
encontra excluída do receituário clássico desse, inclusive como forma de criar
maior empatia e humanizar suas personagens. O machismo também é mais apropriado
aos códigos americanos que o seu equivalente italiano, mesmo se levando em
conta a caracterização um tanto caricata em sua polaridade da “boa garota” x
“garota má”, de quem o herói, escanteado pela primeira, irá ser literalmente
salvo por um colega, que já conhecia a reputação da mesma, tendo também sido
anteriormente sua “vítima”, vivida por uma Veronica Lake em início de carreira
e com modestos recursos de interpretação – e quando a personagem morre, não é
escusado mostrar generosamente um pouco mais de seu busto. Desnecessário
ressaltar a ênfase que os sentimentos ganham proeminência frente a rigidez dos
códigos da caserna, parecendo haver uma liberalidade tão grande na escapada de
Young para a noite quanto as ações de Carolyn que imediatamente a desmentem
sobre não ser permitida sair com clientes – ela dança com Ludlow e Young logo
após. Igualmente, o amor entre os companheiros de voo (tema que já havia
rendido insinuações homoeróticas mais ou menos desenvolvidas ou perceptíveis em
filmes anteriores como Asas ou Os Dragões da Morte. Aqui, ocorre um
mútuo sacrifício entre amigos, sendo o mais notado em sua extensão o do
casamento de Ludlow – que o próprio afirme ter amado Sally diante de seu
cadáver, em morte igualmente previsível, pode ser um exemplo de possibilidades
de leitura além do estritamente possível então. Essas incluem uma certa “comunhão
de derrotados” ou possível aproximação de caráteres entre Ludlow e Sally, sendo
que apenas do primeiro se pole o mesmo. Que ao menor sinal de fracasso ou
contrafação em seus objetivos profissionais ou afetivos caiam nos braços da
demonizada Sally não vem ao acaso. Já o beijo na boca de Ludlow tascado por
Carolyn - aquela que já afirmara não ter encontrado o homem que a fizesse
abandonar a carreira, algo que certamente pretende fazê-lo com Young – em nome
dos dois, parece uma marota saída (a la Lubitsch, com quem é frequentemente
comparado Leisen) para a expressão impossível de carinho entre os amigos. Ao
mesmo tempo, acena para o interesse inicial de Carolyn em Ludlow no ensaio
fotográfico. Donlevy, ator de caracterização típico, talvez se saia melhor que
todos os que ganham ascendência sobre ele no elenco. Paramount Pictures. 129
minutos.
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