Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#116: José María Beltrán

 


JOSÉ MARÍA BELTRÁN. (Argentina/Espanha, 1898-1962). Talvez o melhor diretor de fotografia  durante a era de ouro do cinema argentino, José María Beltrán é hoje uma figura virtualmente desconhecida, a despeito de ter ganho o prêmio de Melhor Fotografia em Cannes, em 1951. Nascido na Espanha e tendo trabalhado como diretor de fotografia de 1925 em diante, durante a era silenciosa. Trabalhou regularmente com os mesmos diretores, incluindo Eusébio  Fernández Ardavín (cinco filmes) e Carlos Velo (oito filmes). Muitas de suas contribuições em meados dos anos 30 foram curtas documentais dirigidos por Velo, incluindo Infinitos (1935). Beltrán aparenta ser firmemente do lado republicano, e trabalhou como diretor de fotografia em todos os quatro longas produzidos por Luis Buñuel para Fimofóno S.A., incluindo o primeiro e mais comercialmente bem sucedido, Don Quintin el Amargo (1935), e o último, Centinela Alerta! (Coração de Soldado, 1937), que alegadamente foi co-dirigido com Jean Grémillon (França). ( A Filmfóno foi uma tentativa de criar uma Hollywood hispânica durante o período republicano, rapidamente interrompida pela eclosão da Guerra Civil Espanhola). Antes de partir ao exílio na Argentina, Beltrán filmou três documentários de guerra, produzidos pelo Sindicato de la Industria del Espectáculo (SEI). 

De 1938 até o final de 1947 (quase 10 anos), Beltrán filmou 34 longas na Argentina, trabalhando com os melhores diretores, incluindo Luis Moglia Berth em Senderos de Fe (1938); Francisco Múgica em seis filmes; Julio Saraceni em três filmes, iniciando com La Intrusa (1939); Luís Cesar Amadori em dois filmes, em 1939; Manuel Romero em três filmes, em 1940; Carlos Hugo Christensen em El Inglés de los Güesos (The Englishman of the Bones, 1940) e El Águilla Blanca (White Eagle, 1941); Alberto de Zavalia em quatro filmes; Luis Saslavski em três filmes, incluindo La Dama Duende (A Mulher Fantasma, 1945); e Lucas Demare e Hugo Fregonese, que co-dirigiu Pampa Bárbara (Savage Pampa, 1945), com quem Beltrán compartilhou o Condor de Bronze de Melhor Fotografia. A Mulher Fantasma, é reconhecido como sendo um dos filmes argentinos de visual mais apurado, e o trabalho de câmera de Beltrán tanto em exteriores quanto elaborados interiores foi chamado de "judiciosamente formal." (Barnard, 1996, p. 23).

No início dos anos 50, Beltrán se lançou na fase internacional de sua carreira, filmando a co-produção argentino-venezuelana La Balandra Isabel Llegó esta Tarde (Bairro da Perdição, 1949) para Christensen. Surpreendentemente, este filme deu a Beltrán o prêmio de Melhor Fotografia em Cannes em 1950, o primeiro filme sul-americano a receber um prêmio no jovem festival internacional de cinema. Filmou então nos Estados Unidos (International Burlesque, 1950) e Brasil (Tico-Tico no Fubá, 1952), assim como na Argentina, incluindo o premiado Las Aguas Bajan Turbias (Dark River, 1952), dirigido pela estrela dos filmes de tango, Hugo del Carril. Para muitos críticos argentinos este filme foi narrado por suas imagens. A cinematografia é austera e poderosa. Las Aguas Bajan Turbias foi o último grande sucesso de Beltrán. Até o final dos anos 50 filmou películas espanholas, mexicanas e italianas, mas o que fez após isso é deseconhecido. 

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 73-4.

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