Filme do Dia: Kuxa Kanema - Episódio 10: Visita do Presidente da R.D.A. Erich Honecker (1979), Juca Vicente & Edgar Moura
Kuxa
Kanema - Episódio 10: Visita do
Presidente da R.D.A Erich Honecker (Moçambique, 1979). Fotografia: Juca Vicente
& Edgar Moura. Montagem: Josué Chabela.
Documentário
da série Kuxa Kanema, cinejornais
produzidos em um Moçambique recém-tornado independente (e que serão tema de um
longa documental homônimo, dirigido por Margarida Cardoso). Há uma espécie de
prólogo, em que uma edição dinâmica faz como que uma síntese do que será
observado ao longo do curta metragem. E cujo metrônomo parece ser a canção
tribal cantada por vozes infantis trazendo, portanto, consigo o signo da utopia
e esperança futura. E mesmo esse canto infantil, efetivamente, é completamente doutrinário
em sua letra, falando da resistência à luta imperialista por parte dos países
africanos, em uma apropriação de motivos rítmicos tradicionais para se veicular
propaganda alinhada ao Partido, como tudo o mais nas imagens – e não da forma
que algumas imagens são dispostas, que aqui e acolá sugerem algum brilho
criativo que procura tornar criativo algo quase impossível de sê-lo. Assim
grandes bandeiras dos ícones do socialismo (a inescapável tríade
Marx-Lênin-Engels) tremulam ao vento, crianças trazem ramalhetes de flores, os
líderes se postam para a execução do hino nacional alemão oriental (e nesse
momento, um dos pontos interessantes de intervenção do realizador também se faz
presente, ao cortar dos líderes para um soldado anônimo, postado em continência
para o hino), a passagem pela guarda de honra de Moçambique, bandeirolas do
país e o pequeno carnaval para as autoridades, comitiva presidencial desfilando
pelas ruas, coroa de flores ao monumento em homenagem aos heróis moçambicanos
tombados na guerra de independência, etc. No meio da multidão, a câmera flagra
um homem jovem louro com uma criança negra sobre o ombro (será algum alemão
oriental morador do país com uma filha sua? Um membro da comitiva do
presidente? Simplesmente um estrangeiro não alemão que acorreu ao chamado do
ato público?). Ao final, um tratado de
amizade e cooperação é assinado. Momento em que a pompa intra-muros das
autoridades oficiais faz com que ambos os presidentes se encontrem vestidos de
paletó e gravata. É curioso como na narração over, fale-se no encontro
entre os representantes máximos das “classes dominadoras” da RDA e de
Moçambique, em um linguajar evocativo de Marx, mas nada estimulante nessa
leitura. As imagens finais são cíclicas, pois apresentam o momento de partida e
despedidas, bem mais breve que ao início, no aeroporto. Honecker consegue
disfarçar mais o seu embaraço que o protagonista do número anterior do
cinejornal (Kuxa Kanema – Episódio 9),
que as vezes aparenta se encontrar desconfortável ou deslocado. INC. 18
minutos.
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