Filme do Dia: Humberto Mauro (2018), André Di Mauro
Humberto Mauro
(Brasil, 2018). Direção e Rot. Original: André Di Mauro. Fotografia: Bia Mauro.
Montagem: Andre Di Mauro & Renato Vallone.
Quase se fica na
expectativa de um documentário estilisticamente mais convencional, como aqueles
que o próprio Mauro critica em sua entrevista que serve como base para os
áudios ouvidos, e que será um dos motivos de contradição de sua fala, já que se
é fato que na série Brasilianas e
muitos outros curtas, ele abdicou da tradicional “voz de Deus” do documentário
clássico, essa surge, em momentos como o curta de final de carreira, que tem
trecho inclusive incluído. Não se trata da única contradição. A outra lhe é
mais proveitosa. Seu discurso fílmico uma vez mais o falado, a respeito do
“progresso não ser fotogênico”; ao contrário, observamos Mauro tirar
partido de vários elementos modernos em
seus filmes. E quanto a expectativa de fazer uso de alguns elementos mais
convencionais, perde-se a chance de tematizar um Mauro em toda a sua rica
contradição, aqui uma vez mais, e não poderia deixar de ser, dado o forte
envolvimento familiar sugerido pelos sobrenomes, para se ficar no mais
facilmente apologético, que também já guiara incursões anteriores como Mauro, Humberto (1964), de David Neves.
De forma menos radical, busca-se a saída fácil de fazer com que “as próprias
imagens” falem por si, como outros documentários contemporâneos brasileiros
(como Histórias Que Nosso Cinema (Não)
Contava, a respeito da pornochanchada). O que nem sempre falam. Algumas
vezes tenta-se mimetizar os experimentos com montagem de alguns filmes do
realizador e, junto a esses, com o áudio da entrevista. Embora a maior parte da
obra canônica do realizador seja referida, com descomunal apreço por seu último
longa, O Canto da Saudade (1952),
muito pouco – se é que existe algo – se vê de Argila (1940), que realizou em sintonia com o ideário
estado-novista. Na sequência mais inspirada, há um jogo de montagem que possui
como elemento de destaque um olho feminino que abre como o desabrochar das
pétalas de uma rosa. Destaque para a cena de uma verdadeira tapeçaria de nuvens
no céu, que o documentário explora em mais de um momento, cenas provenientes de
O Canto da Saudade. Seguindo uma
tendência bastante utilizada no
trato de personalidades já falecidas quando da realização do documentário (Imagine: John Lennon, A Verdade Sobre Marlon Brando, Maria Callas – Em Suas Próprias Palavras,
Amy, Eu Sou Ingrid Bergman e, num exemplo mais aproximado, Onde a Terra Acaba), em que a verve
testemunhal, a falar sobre si, através de cartas, áudios ou imagens
audiovisuais, ganha evidente protagonismo – no caso em questão mais discreto
que nas produções referidas. Canal Brasil/DiMauro Filmes. 90 minutos.
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