Filme do Dia: O Posto (1961), Ermanno Olmi

 


O Posto (Il Posto, Itália, 1961). Direção: Ermanno Olmi. Rot. Original: Ermanno Olmi & Ettore Lombardo. Fotografia: Lamberto Caimi. Música: Pier Emilio Bassi. Montagem: Carla Colombo.  Dir. de arte: Ettore Lombardi. Com: Sandro Panseri, Loredana Detto,  Guido Spadea, Tullio Kezich, Guido Chiti, Corrado Aprile, Mara Ravel, Bice Melegari.

Domenico (Panseri), jovem rapaz,  é acordado pelos pais para uma prova que talvez seja definitiva para a sua vida, segundo eles, que lhe possbilitará um acesso a uma grande empresa. Em meio ao dia todo de seleção, que inclui provas de cálculo e exames de saúde, além de entrevistas, na pausa para uma refeição, ele encontra a também jovem Antonietta (Detto), por quem enamora-se e passa a flertar. Ambos passam na seleção, mas ele é designado para trabalhar como mensageiro, apenas a encontrando um mês após a admissão. Ela o convida para um baile da empresa que, segundo ela, será extremamente divertido. Domenico é um dos primeiros a chegar, mas apesar da noite divertida, nem sinal de Antonietta. Com a morte de um funcionário da repartição, chega o momento de Domenico subir de posição.

Há algo extremamente comovente e singelo na forma como Olmi observa os dois jovens que, sob a força das circunstâncias, aproximam-se diante não apenas da tensão e incerteza quanto ao futuro, mas igualmente dos códigos do mundo adulto, no qual estão apenas se iniciando – como a cena em que observam de que forma uma cliente idosa se despacha da xícara de café após ter se servido – e de uma Milão que fervilha diante do Milagre Econômico, porém apresentando também seu lado menos glamoroso, de onde, inclusive, vem Domenico. O passeio dos jovens pela cidade é marcado por um tom de pequena crônica do cotidiano ainda demasiado viva para um espectador do século seguinte, assim como os comentários e figuras de convívio ainda mais efêmero que o deles próprios. É um tom bem diverso de seus colegas mais famosos, que também traziam obras seminais contemporâneas. Longe do existencialismo vivenciado individualmente pelos personagens da elite de um Antonioni (O Eclipse) ou do caráter féerico e ocasionalmente histérico da sociedade romana de Fellini (A Doce Vida). ou ainda do melodrama da classe operária emergente de Visconti, também aclimatado em Milão (Rocco e Seus Irmãos).  Sandro Panseri vive o seu Domenico, com refratária timidez e curiosidade ansiosa a respeito do desconhecido, traduzido muitas vezes pelo olhar, como no momento em que vai a sala da administração de seu novo emprego. E a câmera replica essa sensação de se pisar em um frio espaço do trabalho, do qual ainda não se tem familiaridade, filmando de longe, os candidatos subirem as nuas escadas de um edifício modernista. Porém, ao mesmo tempo se encontram nesses espaços, desde os primeiros momentos, um aspecto de trivialidade da sociedade de massas, como é o caso do torpe exame médico habitual vinculado ao mundo empresarial, nada distante do praticado ainda nos dias de hoje no Brasil e de uma gestão empresarial marcada e notas de um provincianismo distante de impessoal, quando o responsável pelos recursos humanos admoesta contra a chegada atrasada pela terceira vez de uma empregada, que já possui filhos grandes que poderiam se virar sozinhos. Há uma decaída quando passa a descrever a medíocre rotina da repartição pública, repleta dos vícios de seus funcionários e de como se encontra estruturada, de forma mais lugar-comum e abertamente cômica, e não por acaso descolada pela primeira vez da aderência do ponto de vista de Domenico. Nesse momento, pode-se até duvidar que ainda assistamos ao mesmo filme. Domenico, até então onipresente, some! Por vários minutos! Muito importante para o sucesso da empreitada de Olmi, em seu segundo longa-metragem,  é não apenas o olhar atento às pequenas minúcias cotidianas, mas também o anti-sentimentalismo com que tudo é descrito. Também foi o primeiro filme da jovem dupla principal, e além de autobiográfico – Olmi foi, ele próprio escriturário – seria o único filme da bela Loredana Detto, que se casaria com o realizador e não mais voltaria a um set. 24 Horses/Titanus para Titanus. 93 minutos.

 

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