Filme do Dia: Os Filhos de Ingmar (1919), Victor Sjöström



 Os Filhos de Ingmar (Ingmarssönerna, Suécia, 1919). Direção: Victor Sjöström. Rot. Adaptado: Victor Sjöström, baseado no romance Jerusalém, de Selma Lagerlöf. Fotografia: Julius Jaenzon. Dir. de arte: Axel Esbensen. Com: Victor Sjöström, Harriet Bosse, Tore Svennberg, Hildur Carlberg, Hjalmar Peters, Svea Peters, Axel Nilsson.

O jovem Ingmar Ingmarsson (Sjöström), filho de uma família afortunada, apaixona-se por Brita (Bosse), oriunda de classe social inferior. Brita resolve se casar com Ingmar apenas para melhorar a situação de sua família, mas nutre um grande ódio por Ingmar e tudo que o cerca. Forçada a manter relações com Ingmar, engravida antes de casar e, como vingança, mata a criança. Condenada apenas a três anos de trabalhos forçados por intervenção de Ingmar, que destacou seu quinhão de culpa no episódio, é sugerido a Brita após sua saída da prisão que abandone o país e vá viver nos Estados Unidos, porém Ingmar decide enfrentar a hostilidade da comunidade e viver com Brita, ainda que foragidos. A situação muda a favor deles, quando o pastor local se diz bem impressionado com sua atitude.
Tocante adaptação do romance de Lagerlöf (que teria como seqüência um menos inspirado Karin, Filha de Ingmar) que voltaria a ser filmado por Billie August, na década de 1990, sem o mesmo brilho. Fundamental para seu sucesso é a densidade com que consegue retratar a complexa relação do par central e a pressão exercida sobre os indivíduos numa comunidade eminentemente conservadora, sendo seu retrato da intolerância bem mais resistente ao tempo que empreitadas semelhantes realizadas na mesma época como o então influente Intolerância (1916), de Griffith. O tema de uma mulher padecendo das vicissitudes a que foi relegada na sociedade tradicional seria  explorado com bastante sensibilidade por Sjöström igualmente em outros filmes de sua carreira, como na própria seqüência citada e em sua obra-prima, Vento e Areia (1928) e, como lá, aqui reagindo de maneira radical a forte violência com que é oprimida – lá assassinando quem lhe estuprara, aqui assassinando o produto de uma violência semelhante. Igualmente como em Vento e Areia, trata-se do processo muito explorado pela literatura e pelo cinema em que a mulher odeia seu homem/opressor para, com o tempo, passar a admirá-lo e amá-lo, como que numa domesticação de seu “lado selvagem”. Ainda que aparentemente simpático à condição feminina oprimida, tampouco o filme deixa de ressaltar a importância da figura masculina do líder familiar na sociedade patriarcal – todos os dramas vivenciados por Ingmar são compartilhados em seus devaneios pelo compartilhar de suas experiências e angústias com o clã de seus ancestrais, notadamente a figura de seu próprio pai, de idêntico nome, no céu. Svenska Biografteatern. 118 minutos.

Postada originalmente em 22/05/2014

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