Filme do Dia: O Vingador Invisível (1945), René Clair

 


O Vingador Invisível (And Then There Were None, EUA, 1945). Direção: René Clair. Rot. Adaptado: Dudley Nichols, a partir do romance O Caso dos Dez Negrinhos, de Agatha Christie. Fotografia: Lucien N. Andriot. Música: Mario Castelnuovo-Tedesco. Montagem: Harvey Manger. Dir. de arte: Ernst Fegté. Cenografia: Edward G. Boyle. Figurinos: René Hubert. Com: Barry Fitzgerald, Walter Huston, Louis Hayward, Roland Young, June Duprez, Mischa Auer, C. Aubrey Smith, Judith Anderson, Richard Haydn, Queenie Leonard.

Dez convidados chegam a uma mansão , a única existente em uma ilha e com a previsão de um novo barco aportar somente na segunda-feira posterior ao final de semana em que chegaram. Seguindo o rumo indicado por uma conhecida rima infantil que fala a respeito de dez indiozinhos, e após ouvirem a gravação de um disco que os acusa individualmente de serem responsáveis por crimes, são eliminados um por um, enquanto o jogo de porcelana com dez índios é progressivamente quebrado a cada crime.

A brincadeira que parte do mote de versos de um chiste tradicional que foram o pontapé para o romance de Christie são aqui utilizados nos créditos iniciais, evidentemente sem o mesmo efeito com as legendas em português, pois o título do filme nada tem a ver com o original, o último verso da canção, sendo esse o livro provavelmente mais adaptado da escritora, e essa sua versão mais célebre. Seu prólogo, de internções humorísticas, é destituído de diálogos – o primeiro surge 5 minutos após o filme iniciado. Tira igualmente partido de convenções estranhas ao cinema clássico como a apresentação dos personagens diretamente para a câmera, num recurso que, da forma que é aqui trabalhado, é evocativo das farsas teatrais. Clair dá uma entonação ao filme que talvez lhe seja mais próxima que do universo da popular escritora britânica, como quando observa da cozinha os empregados juntando os pedaços de carne caídos ao chão que serão servidos com toda pompa na mesa do aposento ao lado. Ou ainda o jogo de fechaduras e olhos a espiá-las como numa caixa chinesa. E ainda o jogo com a montagem quando restam sete sobreviventes e é sugerido que o misterioso Mr. Owen seja um deles. Ou ainda um quase trôpego Roger servindo o jantar após beber quase todos os drinques para comprovar que não se encontravam envenenados. Talvez à época da produção já fosse demasiado antipoliticamente correto a rima infantil com a palavra nigger e se preferiu adaptar para dez indiozinhos, embora seja mais provável que os produtores apenas tenham seguido o título americano do romance de Christie, presente igualmente em uma adaptação teatral prévia. Intrepretações equilibradamente medianas em papéis que não exigem muito e uma criação atmosférica idem, assim como os cacoetes associados a narrativa que trabalha única e exclusivamente com o suspense sobre quem será o assassino não o tornam particularmente atrativo, mesmo prendendo a atenção. E o chiste do falso Lombard ao final, assim como a sorte de quem sobrevive parecem quase caber a um processo de “eugenia” tipicamente hollywoodiano.  René Clair Productions para Twentieth Century Fox. 97 minutos.

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