Filme do Dia: Gente como a Gente (1980), Robert Redford

 



Gente como a Gente (Ordinary People, EUA, 1980). Direção Robert Redford. Rot. Adaptado Alvin Sargent, a partir do romance de Judith Guest. Fotografia John Bailey. Montagem Jeff Kanew. Dir. de arte Phillip Bennett & J. Michael Riva. Cenografia William B. Fosser & Jerry Wunderlich. Figurinos Bernie Pollack. Maquiagem  Gary Liddiard. Com Timothy Hutton, Donald Sutherland, Mary Tyler Moore, Judd Hirsch, M. Emmet Walsh, Elizabeth McGovern, Dinah Manoff, Fredric Lehne, Scott Doebler.

Conrad “Connie” Jarrett (Hutton) sente-se pressionado pelos olhares atentos dos colegas de ginasial, assim como os pais, Calvin (Sutherland) e Beth (Moore), por conta de uma tentativa de suicídio, que se seguiu a morte do irmão Buck (Doebler), em um acidente de vela pelo qual se sente culpado. Mesmo com restrição, Conrad decide iniciar uma terapia com o Dr. Berger (Hirsch). Um dos nós difícil de contornar é a extrema dificuldade de Beth de demonstrar sentimentos, sobretudo com Conrad. Aos poucos, este consegue extravasar alguns de seus sentimentos, ainda que de forma agressiva. E tomar decisões, como abandonar a natação ou se aproximar da colega Jeaninne (McGovern). Buscando fugir de se defrontar minimamente com as tensões, e idealizando uma viagem para Huston com o marido, Beth apenas as reforça.

Há muitas representações do luto no cinema (O Quarto do Filho, Close, Ponette, O Turista Acidental, Coração de Cachorro, Direito de Amar, Estrada para Ythaca, Maridos, e tantos outros). O filme de Redford se une a este conjunto vasto e variado com o que parece ser uma atualização dos dramas psicológicos tão recorrentes no cinema americano de três ou quatro décadas antes. Dentro do firme otimismo pragmático teme-se até uma resolução ainda mais literal, postos para fora alguns demônios com gritos, e contando com a ajuda da morte de uma personagem secundária em circunstâncias trágicas. O retorno da imagem traumática, indispensável nos tempos de Hitchcock (Quando Fala o Coração) é aqui seguido à risca na dolorosa escalada para a superação. E como não dar razão à depressão de Connie diante de uma sociedade tão horrendamente plastificada, a fazer parecer simpática a representação da geração anterior e seus incômodos e intrusões em A Primeira Noite de um Homem? Sendo que aqui os jovens tampouco parecem mais vivazes. E chega a ser simpático ou comovente os murros desferidos por Connie em um garoto a lhe atormentar diante de reações semelhantes de similares seus nas décadas vindouras. E por vezes nos faz lembrar com nostalgia de todos os excessos melodramáticos de um Douglas Sirk, substituídos por uma mais contida tensão realista e por uma tentativa quase bergmaniana de Tyler Moore envergar a couraça auto protetiva contra a nau incerta dos sentimentos, não pecasse ela por certa caricatura – e sem o desafogo do espaço não exatamente literal, entre a imaginação e a realidade do diretor sueco em alguns de seus filmes. Abdica-se da trilha sonora original por um recorrente apelo ao Cânon em D Menor de Pachebel e conta-se com a interpretação mais notável de todo o elenco nas mãos de Judd Hirsch. Estreia de Hutton e McGovern no cinema, assim como de Redford como diretor.  E é melhor se ter um final algo truncado, com uma declaração de amor mútua entre pai e filho que uma mais didática – e inverossímil – resolução e aceitação de uma terapia coletiva. A cena do afogamento,  representação da cena do trauma, a retornar em vários momentos do filme, foi visivelmente filmado em um tanque aparentemente nada generoso. |Paramount Pictures/Wildwood Ent. para Paramount Pictures. 124 minutos. 

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