Filme do Dia: O País das Pornochanchadas (2022), Adolfo Lachtermacher
OPaís da
Pornochanchada (Brasil, 2022). Direção,
Rot. Original e Montagem Adolfo Lachtermacher.
Sua
estrutura é responsável pelo que traz de melhor e – ao mesmo tempo – de pior
neste documentário, pois ela é elaborada a partir de uma “fala do eu”,
associando a pornochanchada a sua vinculação pessoal-afetiva de seu realizador,
filho de um realizador do gênero, e também participante como ponta numa delas,
como ele mesmo apresenta. Mas ao mesmo tempo busca ser uma investigação sobre o
gênero a partir da fala de especialistas ou pessoas vinculadas ao ciclo de
filmes. No primeiro quesito se encontra Hernani Heffner. No segundo, o
ator-produtor Carlos Mossy. Os Homens Que Eu Tive é citado entre os
títulos do gênero, o que talvez não seja exatamente o caso. Há um comentário
que corre todo o risco de ser uma intervenção datada, quando se compara à época
das pornochanchadas com o ministro da educação de Bolsonaro Abraham Weintraub e
sua evocação bizarra de uma cena de Cantando na Chuva. No período de
obsessão da pesquisa para o filme, segundo comentário do realizador, podemos
entrever uma referência a outro documentário dedicado ao mesmo a lhe anteceder,
Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava. Antes ou ao mesmo tempo que
Kléber Mendonça efetivava sua reflexão sobre as intercambialidades entre
cinemas e templos religiosos (Retratos Fantasmas), há aqui uma
referência envolvendo um cinema de uma cadeia de cinemas que iria ao final da
carreira se vincular a exibição de filmes eróticos, tematizada no filme de
Kléber sobre outra perspectiva. Aqui, infelizmente, há uma errância em relação
a proposta que parece em alguns momentos reforçar estereótipos do próprio
gênero que analisa – enquanto Heffner é a voz de autoridade a falar sobre a
pornochanchada, uma atriz recorrente na produção do pai do realizador,
Barsotti, fala como se estivesse participando de uma, para ficar em um exemplo.
Como no documentário citado sobre a mesma produção, perde-se a chance de trazer
os títulos nos clipes dos filmes exibidos, aqui um recorte a privilegiar
sobretudo os filmes de seu pai, Saul . Os outros, muitas vezes ficam restritos
a cartazes e a menção aos seus títulos, tendo um generoso recorte da produção,
a incluir a que se situaria entre a chanchada e a pornô, como Toda Donzela
Tem um Pai que é uma Fera (1966). No outro extremo, aos que se batem pelo
ano de 1972 como o de seu surgimento. Uma das poucas bolas dentro se dá, embora
pudesse ter ido além dos filmes do papai, quando ilustrador de boa parte desta
produção é entrevistado, pois os cartazes sintetizam muito o que representa o
universo da pornochanchada – e se este for um dos critérios, basta se observa a
diferença do espírito destes em relação ao filme de Roberto Farias, de 1966,
acima citado. E uma ideia que poderia ter sido explorada com mais detalhe.
Outro dado interessante, ao menos da perspectiva de seu realizador, e com
possibilidade grande de acerto, é que o esgotamento da fórmula é inversamente
proporcional a sutileza, sendo a caricatura cada vez mais imperativa. E o mote
do filme perdido, que impulsiona Cinema de Lágrimas, de Nélson Pereira,
em relação ao melodrama, aqui se torna tão secundário que quando descoberto,
talvez nem se venha a estranhar tanto a irrelevância com o qual vem a ser
tratado. Quando fala sobre o elenco, que incluía alguns dos maiores nomes da
nossa dramaturgia televisiva e cinematográfica, nem ao menos o cita como os
cartazes dos filmes. E a pobreza de amostra das imagens em movimento
apresentada é confirmada nas referências dos créditos finais. Que venham outras
produções sobre o tema! Cavideo Prod. 74 minutos.
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