Filme do Dia: Pinocchio (1911), Giulio Antamoro

 


Pinocchio (Itália, 1911). Direção Giulio Antamoro. Rot. Adaptado a partir da obra de Carlo Collodi. Com Polidor, Augusto Mastripietri, Natalino Guillaume, Lea Giunchi.

Pinocchio é esculpido na madeira por Geppetto. Após ganhar vida, faz enorme confusão na cidade, provocando a prisão de seu criador, enquanto ele foge. O proprietário das terras captura Pinocchio e o prende como um cão, na casinha utilizada para o animal. Pinocchio alerta sobre um assalto e o proprietário, agradecido, liberta-o. Quando ele ganha o mundo, os ladrões o penduram em uma árvore, sendo ele salvo por uma fada, que também lhe entrega quatro moedas. Uma raposa e um gato se tornam seus amigos e o levam a uma cidade dos animais. Eles o enganam, afirmando que ele deve plantar seu dinheiro sobre a terra e cultivá-lo, mas ficam com as moedas quando Pinocchio se afasta. Quando ele tenta acertar as contas com os dois larápios, vem a ser preso pela polícia. E foge pela janela da torre, caindo na água e nadando até ser engolido por uma besta gigante, reencontrando Geppetto no estômago do animal. Conseguem escapar com a ajuda de índios. Eles possuem profundo respeito por Pinocchio, e quando este observa Geppeto a ponto de ser posto no fogo para servir de alimento aos indígenas, pede que o soltem. Deparando-se com soldados canadenses, estes o utilizam como bucha de canhão, vindo a cair justamente na residência de Geppetto, e provocando a ira do mesmo. Ele se une a um teatro de marionetes, fugindo igualmente do mesmo. Vai parar em uma terra de brinquedos, por influência do amigo Lucignolo. Em pouco tempo por lá, suas orelhas se transformam em orelhas de burro, e eles próprios se tornam depois dois animais da espécie. A fada surge e os transforma novamente no que eram. Na casa de Geppetto, a fada transforma o boneco em uma criança humana.

Já de antemão há um certo gozo perverso em manter por um tempo uma imagem de plano bem aberto apresentando a rotina ordenada de um vilarejo que saberemos ser em pouco transtornada pela figura de Pinóquio, nesta que é a primeira versão que se tem notícia, das diversas que se seguiriam, do livro de Collodi. As pessoas gesticulam, de forma tresloucada e em grande grupo, em planos que, a rigor, não ficam muito a dever aos tempos de Viagem à Lua, de Méliès. Quando a cartela antecipa o episódio da baleia, dificilmente excluída das adaptações, dado o seu apelo fantástico, imagina-se de imediato como um filme do período irá lidar com a cena e se tem uma surpresa agradável, pelo bom gosto dos efeitos, quando se leva em conta a produção da época. Até mesmo a representação no ventre da baleia é razoável. E o que não se dizer dos efeitos visuais a juntarem na mesma imagem Volpone e os títeres (dentre eles, Pinocchio, que transforma em mais um)? Ou, em menor medida, a transformação de Pinocchio em um garoto comum, saindo literalmente de seu corpo de madeira, que fica encostado em um canto – mas ainda na pele de Polidor.  Seria um tanto de má vontade tampouco reconhecer um senso estético, provavelmente associado sobretudo a Antamoro (mais lembrado hoje por Christus, de meia década após), em algumas cenas específicas, como é o caso da caravana mambembe a cruzar uma ponte, mas valendo para o filme como um todo, onde um relance do contraste entre a fantasia e locações reais, algo a ser posteriormente valorizado por um realizador como Murnau, pode ser observado. Em termos narrativos, embora se aproxime disso (e em parte involuntariamente, já que não sobreviveu na íntegra, como a cartela desta restauração evidencia), consegue trazer uma fluidez narrativa maior que os filmes que eram verdadeiros ajuntamentos de episódios isoladas, melhor personificados pelas Paixões de Cristo.  A caracterização de Polidor, famoso humorista italiano à época e de longeva carreira no cinema italiano – sendo homenageado com pequenas pontas ao final da carreira, muitas delas sequer creditadas, em alguns ilustres filmes (Noites de Cabíria, Desajuste Social, A Doce Vida, 8 e ½, Boccaccio’70, Histórias Extraordinárias) - é bem resolvida, com ótima expressão corporal, inclusive na cena em que de boneco ganha vida. Natalino é seu irmão, já que o nome verdadeiro de Polidor, na época encarnando uma série de filmes como um personagem antecessor, Tantolino, é Ferdinand Guillaume. Tido como um dos primeiros longa-metragens italianos. |Società Italiana Cines. 54 minutos.

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