Filme do Dia: A Flash of Light (1910), D.W. Griffith

 


AFlash of Light (EUA, 1910). Direção: D.W. Griffith. Rot. Original: Stanner E.V. Taylor. Fotografia: G.W. Bitzer. Com: Charles West, Vivian Prescott, Stephanie Longfellow, Verner Clages, Joseph Graybill, Edward Dillon, William J. Butler, Alfred Paget, Mary Pickford.

Belle (Prescott) renova os seus votos de amor de dez anos antes, na praia, com John Rogers (West). Porém, após casados, suas experiências químicas a aborrecem e ela prefere a agitada vida mundana de festas e diversão. Numa festa que comparece com uma amiga, ocorre um acidente que deixa seu marido cego e surdo. Sua irmã mais velha (Longfellow), que também era apaixonada por ele, começa a perceber o crescente descaso de Belle pelo marido. Belle decide se divorciar para seguir sua carreira teatral. Sua irmã fica então com o anel de noivado de Belle e se faz passar pela esposa. Há uma promessa de cirurgia que recuperará a visão de John Rogers. A irmã, preocupada com a possibilidade de Rogers descobrir toda a farsa, vai buscar Belle em meio a trupe teatral. Essa, algo a contragosto, retorna a casa, porém o acidente com uma cortina produz a entrada de luz que cega Rogers incuravelmente. Belle parte na mesma hora, e esse pede que a irmã fique com ele.

Como é habitual em Griffith, procura-se tirar partido de situações limítrofes contrastantes – aqui o momento em que o herói é atingido em sua visão no laboratório e a dor enorme que sente em relação ao momento de pura diversão da esposa, auxiliando o espectador, de forma nada sutil, a tornar ainda mais culpável o comportamento da mesma; ou ainda, de forma menos enfática, quando se contrapõe a alegria irrestrita de Belle em sua nova vida como atriz e sua irmã preocupada com o retorno da visão do amado, que descobriria toda a farsa compartilhada dela se fazer passar pela irmã. Evidentemente que dentro do prisma moral vitoriano que move a maoria dos filmes do realizador, a independência de Belle é observada com péssimos ohos, enquanto o modelo de mulher cuidadora, praticamente maternal, representado por sua irmã mais velha – algo que se torna mais agudo com a perda de visão do herói – já está do seu lado igualmente para enfatizar mais uma vez o contraste. Mesmo com todo o patético, não deixa de ser interessante a solução um tanto literal pensada para a produção, ou seja, a da apropriação do símbolo mais convencional da união abandonado pela própria esposa, o anel de noivado.  A cara piedosa, triste e passiva ou simplesmente ausente que acompanhará John Rogers após a cegueira provavelmente será um atrativo à parte para quem assistir essa produção praticamente com um século e uma década de distância. Que se esqueça a questão da surdez a partir de determinado momento é mero detalhe numa produção que consegue lidar de forma relativamente original com os cacoetes melodramáticos à disposição, do momento inicial, que apresenta uma cena de mar evocativa do poética de O Mar Imutável (e provavelmente filmado à mesma época), até a cena do flash de luz que selará  - aparentemente de forma positiva dentro da economia do drama em questão, tornando-se ele novamente mais dependente para sua maternal amada de energia menos ativa, motivo que será problematizado, a partir de uma perspectiva similar e distinta ao mesmo tempo, por Fassbinder décadas após em seu Martha. Biograph Co. 14 minutos e 38 segundos.

 

 

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