Filme do Dia: Os Monkees Estão Soltos (1968), Bob Rafelson

 


Os Monkees Estão Soltos (Head, EUA, 1968). Direção: Bob Rafelson. Rot. Original: Bob Rafelson & Jack Nicholson. Fotografia: Michel Hugo.  Montage: Michael Pozen. Dir. de arte: Sydney Z. Litwack. Cenografia: Ned Parsons. Figurinos: Gene Ashman. Com: Peter Tork, Davy Jones, Mick Dolenz, Michael Nesmith, Annette Funicello, Timothy Carey, Logan Ramsey, Abrahan Sofaer.


Tendo iniciado sua carreira produzindo justamente uma série de TV  dirigida por Rafelson cujos protagonistas eram a versão pasteurizada dos Beatles nos EUA, The Monkees, criação dele próprio, Bert Schneider produziu esse tolo veículo para a banda, que igualmente no estilo cinematográfico  não possui outro destino que o de imitar novamente a banda britânica, com resultados pífios. Assim como Os Reis do Iê-Iê-Iê (1964),de Lester se dá uma roupagem atraente (e aqui ainda mais descerebrada e inclusive chegando mesmo a ser vil, como na sua utilização oportunista de chocantes imagens da Guerra do Vietnã, para atender, de modo mais superficial possível ao clima de contestação) a uma série de situações não bem costuradas e eventuais momentos precursores do videoclipe. Evidentemente se explora o máximo possível o clima de psicodelia, destacando-se as imagens saturada de cores que reproduzem no cinema o que Richard Avedon havia conseguido na fotografia – inclusive no caso de célebre fotografia dos Beatles que se tornara comumente pôster  nas paredes de residências, a exemplo da casa do protagonista de Dias de Fogo. É o que ocorre na seqüência inicial, na qual os integrantes pulam do alto de uma ponte.  Ou ainda a utilização do que ainda era presente na vanguarda, como as imagens que se duplicam como em ondas visuais ou se posicionam lado a lado, utilizadas por Anger ainda no ano seguinte (Invocation of My Demon Brother) e que se tornariam coqueluche em pouco tempo. Assim como a tela em negro, a repetição de um mesmo plano, o filme que se queima ao final ou a presença ocasional de letreiros em meio a imagem. Para não comentar a sua visão de mundo em que realidade e ficção se encontram eternamente em interação, com a vitória evidentemente da última, transformando a vida numa grande salada russa ou passeio por estúdio cinematográfico. Composto de sketches como já o fora o filme de Lester, há ainda menções  ao que havia de mais sofisticado em termos de cinema moderno contemporâneo, como o diálogo entre o personagem diegético e o narrador pretensamente não-diegético, mesmo que mais próximo de reproduzir certos desenhos de Pernalonga do que propriamente Godard. Ou ainda a constante  desconstrução – literal, já que muitas vezes o cenário é rasgado – de um pretenso universo ficcional que demonstra ser não mais que um cenário de estúdio. E a menção a multiplicidade de imagens representada sobretudo pelo controle de televisão capaz de apresentar paralelamente Gilda, o próprio filme, Bela Lugosi, comerciais ou notícias sobre o Vietnã. Choque que por vezes não necessita do artifício da televisão para surgir, como na seqüência em preto&branco de entrevistas ao estilo cinema verité.  E, por fim, sua estrutura circular que termina exatamente de onde se inicia. O que não quer dizer muito em se tratando de um filme praticamente sem estrutura narrativa delineada. A vacuidade desse filme de estréia de Rafelson e o fato de ter sido o primeiro longa para o cinema produzido por Schneider aproxima-o mais de uma versão sofisticada do que Roger Corman fazia com semelhante trupe de colaboradores (notadamente Jack Nicholson e Monte Hellman, que aqui trabalharia como montador, mesmo não tendo sido creditado). E o mais curioso  é que justamente esses artistas é que irão realizar alguns dos filmes mais notáveis da década seguinte, muitos dos quais financiados pelo mesmo Schneider, tais como Sem DestinoCada um Vive como Quer, dirigido igualmente por Rafelson, A Última Sessão de Cinema, o célebre documentário sobre o Vietnã Corações e Mentes ou Terra de Ninguém, sugerindo uma mescla curiosa   e promíscua de pretensões artísticas  e autorais com imperativos comerciais como  poucas vezes se viu no cinema. Jack Nicholson, Dennis Hopper, Victor Mature e Frank Zappa surgem em pontas.  O logotipo da Columbia tampouco é poupado, surgindo ao final em trajes hippies. Há uma versão do diretor com 110 minutos, restaurando a metragem original que não havia sido de agrado do público quando de seu lançamento.  Raybert Productions para Columbia Pictures. 86 minutos.

Postada originalmente em 09/05/2020

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