Filme do Dia: Bezbog (2016), Ralitza Petrova
Bezbog
(Bulgária/Dinamarca/França, 2016). Direção e Rot. Original: Ralitza Petrova.
Fotografia: Chayse Irvin & Krum Rodriguez. Montagem: Donka Ivanova. Dir. de
arte e Figurinos: Vanina Geleva. Com: Irena Ivanova, Ventzislav Konstantinov,
Ivan Nalbantov, Dimitar Petkov, Alexandr Triffonov.
Gana
(Ivanova) é uma enfermeira que trafica as identidades daqueles que atende no
mercado negro, conseguindo somas substanciais de dinheiro, além de conseguir
morfina sempre que pode no hospital. Ela possui um amante Aleko (Konstantinov),
mas não se amam e aos poucos passa a se sentir envolvida por Yoan (Nalbantov),
um dos homens a quem presta assistência, que rege um coral e é acusado de
corrupção. Gana se sente culpada por numa de suas investidas para conseguir a
identidade de uma idosa, através de Aleko, essa morrer. Após ficar sabendo da
morte súbita de Yoan, decide se entregar a polícia.
Contando
com interpretações eficientes, e mesmo tocantes, como é o caso sobretudo de
Konstantinov, o filme é uma tentativa de expressão um tanto árida de uma
personagem sem amor no mundo, como ela própria se auto definirá, característica
que também encontra na solitária mãe com quem vive, mas que raramente troca
algum contato além do trivial. Para além da aridez de sua própria descrição do
cotidiano pesado de Gana, muitas vezes escutando insultos de seus clientes e
sem ter sexo com o amante aparentemente há já algum tempo, além do crescente
envolvimento com drogas e um passado com eventos traumáticos, como o pai que a
entrega a um soldado, a troco de favores, o filme tampouco faz questão de ser
demasiado claro sobre as situações e seus personagens, fazendo uso capcioso de
elipses. Seu final é uma retomada das cenas iniciais que só então percebemos se
tratar de um flashforward. A Gana de
Ivanova, aparentemente uma atriz não profissional, possui uma máscara facial
que parece expressar uma dor reprimida, praticamente ao longo de todo o filme.
Somente após a morte de Yoan, misto de figura paterna e amante tentativo em uma
determinada ocasião mal sucedida, é que Gana conseguirá sair de sua letargia e
crescente automatismo, permitindo-se chorar e decidindo se entregar. A relação
com a culpa e a religião também é enfatizada, com Gana participando da missa
dedicada a velha senhora morta por seu amante e se sentindo profundamente
tocada pelas vozes que ouve nos ensaios de Yoan – de certa forma, paralelos
podem ser traçados com a personagem vivida por Isabelle Huppert em A Professora de Piano, ainda que o
filme não construa de forma tão cristalina um retrato psicopatológico como
naquele. Dito isso, por vezes se fica com a impressão de uma espécie de
tentativa de elaboração de uma “profundidade pré-fabricada” em sua atmosfera. A
maior parte das obras que se ouve na trilha sonora é do compositor russo –
predominantemente sacro – Pavel Chesnokov. Longa de estreia da realizadora,
conquistando Leopardo de Ouro no Festival de Locarno. Klas Film/Snowglobe Films/Alcatraz Films/Film Factory.
99 minutos.
Comentários
Postar um comentário