Filme do Dia: A Dança dos Paroxismos (1929), Jorge Brum do Canto
A Dança dos Paroxismos (Portugal,
1929). Direção, Rot. Original e Montagem: Jorge Brum do Canto. Fotografia:
Manuel Luís Vieira. Com: Machado Correia, Jorge Brum do Canto, Maria de Castro,
Maria Emília Vilas, Maria Manuela Varela.
Cavalgando há dois dias rumo ao Reino
Encantado no qual desposará uma princesa, Galeswithe (Varela) o cavaleiro (Brum
do Canto) é acudido por um grupo de camponesas. Ele segue sua jornada, tendo
sido alertado para ter cuidado quando atravessasse Elfland, a terra dos elfos.
Lá proseia com Banschi (Castro) e é convidado a dançar pelas sílfides, convite
que declina. O convite embute várias promessas, para que permaneça no seu
reino. Esse não cede a seus encantos e parte, logo a seguir vendo uma imagem de
ninguém menos que Galeswithe, que se afirma já ter morrido.
Bem mais comedido em suas
experimentações formais que a maior parte dos filmes da vanguarda francesa que
lhe inspirou – o filme é dedicado a Marcel L’Herbier, embora talvez seja mais
próximo, esteticamente, das produções de um Jean Epstein – o que não significa
destituído de talento, antes ao contrário; o quanto de beleza plástica ele
extrai a partir da simples movimentação dos agricultores quando chamados por
uma mulher, dentre vários outros exemplos, atesta o oposto, apesar de ser
anunciado, em seus créditos iniciais, tratar-se de uma produção amadora. O ar
um tanto parvo do príncipe, vivido pelo próprio realizador, provavelmente seria
um atestado de se encontrar ainda tenso e pouco à vontade em meio aos
camponeses que o recebem. A acrescer de sua dimensão com um que de onírica não
falta sequer a presença de duas gêmeas interpretando camponesas. Brum do Canto
seguirá uma trajetória nada incomum para boa parte desses realizadores
vanguardistas, a de se aproximar de filmes de caráter apolegético de regimes
autoritários (Fátima, Terra de Fé e Chaimite dentre os exemplos mais
célebres). Se há algo aparentemente em comum em filmes tão diversos quanto esse
e o posterior Chaimite é a ausência
de maiores delongas para a cena que se pensa mais esperada – lá a do encontro
entre as tropas portuguesas e Gungunhana, aqui a do príncipe e sua amada –
embora logo se descubra que o encontro súbito não passa de um delírio do jovem.
E ainda pode ser dito o breve momento que reproduz o passamento de João,
observado atráves de desfocamento, câmera vacilantes e outros efeitos na
película posterior, sendo que a câmera aqui macaqueia igualmente o olhar
oscilante do cavaleiro, dentre vários outros uso similares. Também se observa
uma aceleração do movimento e várias tomadas de efeito gracioso em que folhas
se elevam ao ar como borboletas. Cópia infelizmente destituída de sonorização
para acompanhamento musical. Seu final soa demasiado abrupto. Mello Castelo
Branco Lmtd. 44 minutos.
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