Filme do Dia: Quero ser John Malkovich (1999), Spike Jonze

 


Quero ser John Malkovich (Being John Malkovich, EUA, 1999). Direção: Spike Jonze. Rot. Original: Charlie Kaufman. Fotografia: Lance Acord. Música: Carter Burwell. Montagem: Eric Zumbrunnen. Dir. de arte: K.K. Barrett & Peter Andrus. Cenografia: Gene Serdena. Figurinos: Casey Storm. Com: John Cusack, Cameron Diaz, Catherine Keener, Orson Bean, Mary Kay Place, W. Earl Brown, Carlos Jacott, Charlie Sheen.

Craig Schwartz (Cusack) é um títere – animador de marionetes – frustrado, que acaba resolvendo atender a uma oferta de emprego como arquivista em uma estranha empresa, que funciona no sétimo andar e meio, de um prédio em Nova York. Dividindo o apartamento com uma fauna de animais e a namorada Lotte (Diaz), com quem há muito tempo não leva uma relação mais próxima, sente-se grandemente atraído pela sedutora Maxine (Keener), que também trabalha no mesmo andar. Seu patrão, Lester (Bean), diz possuir 105 anos e é completamente obcecado por mulheres. Um dia, por acaso, Schwartz descobre um túnel que o levará a entrar no corpo de outra pessoa, mais exatamente do ator John Malkovich (Malkovich), por 15 minutos. Compartilha  o segredo com Lotte, que acompanha o encontro de Malkovich com Maxine, dentro do corpo do primeiro, deixando Maxine completamente fascinada pela mistura de Malkovich e Lotte. Enquanto Lotte só pensa em reencontrar Maxine via Malkovich, Schwartz começa a perder esperança  de também ser correspondido pela mesma, embora seja sócio de uma empresa que criam para pessoas que pretendem passar 15 minutos sendo Malkovich. Em um jantar, no apartamento do casal, Maxine rejeita ambos. Schwartz porque acha muito sem sal, Lotte porque só se sente atraída por ela na pele de Malkovich. Enfurecido com a situação, Schwartz aprisiona Lotte em casa e faz-se passar por ela, conseguindo interagir no momento em que Maxine faz amor com Malkovich. Porém ele vai longe demais e sua personalidade toma conta de Malkovich, que abandona a carreira de ator e torna-se um bem sucedido títere, casando-se com Maxine. Lotte busca ajuda com Lester, que lhe explica que ele próprio e todo um grupo de amigos, também querem que Schwartz desobstrua o corpo de Malkovich para que eles próprios possam continuar vivendo. Schwartz só acaba decidindo sair do corpo de Malkovich, quando se vê ameaçado de perder Lotte, que no entanto acaba lhe desprezando e partindo com Maxine. Maxine acredita que a filha que espera é, na verdade, de Lotte, já que foi gerada quando esta se encontrava no corpo de Malkovich. Este, por sua vez, consegue descobrir justamente na filha do casal, o meio de se eternizar, já que ela também possui o dom de poder ter o corpo invadido.

Com um roteiro bastante singular, o estreante Jonze conseguiu se afastar do lugar comum e enveredar por uma atmosfera surreal que lembra a do cineasta Terry Gilliam, sem o espalhafato cenográfico do mesmo (a não ser na seqüência em que Maxine foge de Lotte, através do subconsciente de Malkovich e na própria cenografia surrealista do escritório, onde todos tem que andar curvados devido ao teto ser extremamente baixo). Embora o absurdo inicial remeta ao universo de Kafka, com o desenrolar do filme parece encontrar-se mais próximo do de Lewis Carroll e, com o passar do tempo, Sponze sacrifica o interessante esboço de dramatização inicial e se contenta em navegar por um enredo mirabolante que passa a ter cada vez menos contato com a realidade tornando-se, por isso mesmo, extremamente cansativo. Uma das cenas hilárias é a que Malkovich segue o grupo de pessoas que pretende fazer uma viagem em seu corpo e ele próprio entra no túnel e sai em um restaurante em que só existem Malkovichs, que só conseguem falar o seu nome. Boa interpretação de Cusack. Fazendo pontas, como eles próprios, Brad Pitt e Sean Penn. Single Cell Pictures/Gramercy Pictures/Propaganda Films. 112 minutos

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