Filme do Dia: Lágrimas Tardias (1949), Byron Haskin

 


Lágrimas Tardias (Too Late For Tears, EUA, 1949). Direção: Byron Haskin. Rot. Adaptado: Roy Huggins, a partir de sua série para o Saturday Evening Post. Fotografia: William C. Mellor. Música: R. Dale Butts. Montagem: Harry Keller. Dir. de arte: James W. Sullivan. Cenografia: John McCarthy Jr. & Charles S. Thompson. Figurinos: Adele Palmer. Com: Lizabeth Scott, Don DeFore, Dan Duryea, Arthur Kennedy, Kristine Miller, Barry Kelley, David Clark, Forbes Murray.

Jane Palmer (Scott) pretende convencer o marido, Alan (Kennedy) a ficar com a valise repleta de dinheiro que foi jogada acidentalmente no carro deles, em uma estrada. Alan, convencido de que eles terão problemas mais cedo ou tarde, mostra-se mais cauteloso. Jane, no entanto, percebe que é uma oportunidade única para realizar os sonhos de riqueza que Alan não poderia a vida toda lhe proporcionar. Ela recebe a visita do rude Danny (Duryea), que sabe que ela se encontra com o dinheiro. Planeja então um encontro no lago de Westlake Park, onde promete que entregará parte do dinheiro a ele. No encontro, o marido dela morre e ela jogo o corpo no fundo do lago. Kathy (Miller) e, sobretudo, Don Blake (DeFore), que afirma mentirosamente ter sido colega do falecido Alan, encontram-se agora na cola de Jane.

Noir com direito a boa parte de suas convenções, de detalhes da geografia e endereços de Los Angeles a uma femme fatale tão implacavelmente fria e mordaz quanto Stanywick no cássico Pacto de Sangue, de Wilder, do qual não deixa, de certa forma, de ser um derivativo. Ainda que o retrato que pinta de sua protagonista possa ser considerado grandemente misógino, associando sua facilidade em seduzir, em maior ou menor medida, desde um desocupado  no terminal de ônibus onde a valise fora depositada até alguém da elite mexicana – com o inescapável bigodinho fino e trabalhado que é associado como marga registrada dos amantes latinos – também pode ser observado, a contrapelo, como a encarnação de um espírito zombeteiro que se utiliza sabidamente das fraquezas masculinas para atingir seu único e verdadeiro objetivo. É pena que, como praxe na época e no gênero, a Jane vivida com brio por Scott rapidamente deixe se mostrar, sobretudo ao espectador, enquanto a inescrupulosa e sórdida que é, pois quando o filme inicialmente trabalha na linha de uma certa ambiguidade, seu personagem ganha maior força e se torna menos unidimensional. O do mocinho, vivido por um DeFore (que já havia contracenado com Scott em Amarga Ironia e também ambos participam do elenco de Cidade Negra, mesmo não dividindo nenhuma cena) surge somente aos 45 minutos do filme, como que caído repentinamente de para-quedas sobre a trama, sendo sua explicação um tanto implausível até que se saiba sua verdadeira identidade. A cópia restaurada em questão, graças a cinemateca da UCLA, a partir sobretudo de uma cópia francesa, levou cinco anos para ser concluída. Hunt Stromberg Prod./Republic Pictures/Streamline Pictures para United Artists. 99 minutos.

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