Filme do Dia: A Sétima Vítima (1943), Mark Robson
A Sétima
Vítima (The Seventh Victim, EUA,
1943). Direção: Mark Robson. Rot. Original: Charles O’Neal & DeWitt Bodeen.
Fotografia: Nicholas Musuraca. Música: Roy
Webb. Montagem: John Lockert. Dir. de arte: Albert S.D’Agostino & Walter E.
Keller. Cenografia:
Harley Miller & Darrell Silvera. Figurinos: Renié. Com: Kim Hunter, Tom
Conway, Jean Brooks, Isabel Jewell, Evelyn Brent, Erford Gage, Hugh Beaumont,
Lou Lubin, Mary Newton.
Mary Gibson (Hunter) abandona a
instituição escolar onde tem carreira garantida para procurar a irmã,
Jacqueline (Brooks), desaparecida em Nova York. Com a ajuda do poeta Jason Hoag
(Gage) e do psiquiatra Dr. Judd (Conway), descobrirá que ela se encontra
envolvida em uma seita satânica que a quer ver morta por ter revelado o
segredo.
Estilisticamente de longe menos
inspirado que a obra clássica do “Ciclo Val Lewton”, Sangue de Pantera (1942), de Tourneur, ainda assim esse filme pode
ser percebido igualmente como na vanguarda de um cinema de horror que
provocaria evidente influência em filmes posteriores, como O Bebê de Rosemary (1968), de Polanski. Sua novidade, em relação ao
gênero, encontra-se associada ao fato de
sua narrativa não se descolar completamente da dimensão realista e
contemporânea, sendo aqui os elementos fantásticos ainda mais filtrados por um
corte que acentua sua vinculação ao filme de suspense e ao noir, que os presentes no filme de Tourneur, no qual a ambiguidade
entre realidade e fantasia e a presença de elementos sobrenaturais se faz mais
presente. Seu clima persecutório, ainda que não atinja o mesmo resultado final
presente, consegue antecipar, de forma mais contida, a confraria satânica em
meio a pessoas “comuns” observada posteriormente no filme de Polanski. Não
menos digno de nota é o seu final, abrupto e ambíguo, ao nem selar a relação de
Mary com o noivo da irmã, Gregory, pelo próprio motivo de ser seu noivo, e
satisfeita em escutar de sua boca que a ama, assim como tampouco satisfazer a
intenção de Hoag de ficar com Mary, por quem se encontra apaixonado. Não existe
ajustes de última hora, tal como no final feliz típico hollywoodiano. E, para
selar de vez a ambiguidade, apresenta a personagem sombria da vizinha de Mary
(vivida pela mesma atriz que encarna a sombria personagem da mulher que
acredita possuir uma identidade forte com a protagonista de Sangue de Pantera) indo de encontro a
fatalidade de seu destino e “proferindo” palavras sombrias em seu “discurso
interior”. É patente a posição do filme de não fazer uso de estratégias que
ressaltem a vitória do amor romântico no último momento. Não se observa a chegada
de Jacqueline e o reencontro com o marido, sendo a última imagem desse
justamente afirmando seu amor pela irmã e vice-versa, embora ao mesmo tempo se
conformando à ideia de que ele não poderá ser vivenciado pela presença de
Jacqueline entre eles. E tampouco se pode dizer que o mal foi vencido com a
mesma ênfase ou certeza que acompanhava as produções da Universal anteriormente
e contemporaneamente ou sua releitura posterior pela Hammer britânica. Aqui, o
máximo de enfrentamento que se contrapõe a seita satânica são alguns versos do
Pai Nosso, observados com certo constrangimento pelos membros da mesma, mas sem
qualquer indicativo que os seis crimes praticados anteriormente pelo mesmo
motivo que os levariam a matar Jacqueline serão punidos. Se o início é uma
infindável sobreposição de situações e personagens que parecem ser fruto
demasiado explícito de orquestrações de roteiro que pouco tempo dispõem para a
construção do senso atmosférico do filme de Tourneur, também existe uma
quantidade razoável de recorrências em relação ao filme anterior, nem de longe
tão definitivas quanto as que se reproduziam incessantes nos filmes de horror
de monstros da Universal. Esses vão desde a caminhada solitária de Jacqueline
de volta à sua casa, assustada com tudo e todos, que seria o equivalente da
caminhada pelo Central Park de Sangue de
Pantera, e igualmente se dando em evidente construção cenográfica, longe de
conseguir o mesmo efeito à personagem do psiquiatra de Judd, vivida pelo mesmo
ator, como que um cômodo ready-made pronto
a ser encaixado em situações diversas, assim como insinuações, menos evidentes,
a afetos lésbicos, aqui demonstrados sobretudo pela crise histérica de um dos
membros da seita, a jovem Frances, que impede em gesto impulsivo o suicídio de
Jacqueline, afirmando que nunca fora feliz na vida como quando trabalhara com
ela. Ou ainda a máscula personagem da Sra. Redi de Newton. Estreia de Kim
Hunter como atriz. No filme participam vários atores que tiveram finais
trágicos, como Tom Conway, irmão do mais famoso George Sanders, morto por
alcoolismo e a bela Jean Brooks, de final semelhante, após uma crescentemente
decadente carreira. RKO Radio Pictures. 71 minutos.
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