Filme do Dia: Le Voyage de la Familie Bourrichon (1913), George & Gaston Méliès
Le Voyage de la Famille Bourrichon
(França, 1913). Direção: George & Gaston Méliès. Rot. Adaptado: a partir da comédia de music hall de Eugène Labiche.
A família
Bourrichon decide viajar para ver se consegue fugir do assédio dos credores.
Porém, mesmo no trem ou até na casa de seus parentes não terão descanso. E
quando, após muitas peripécias, decidem retornar para casa, a encontram cheia
de móveis que ganharam vida própria.
Embora a comédia
nunca tenha sido o forte de Méliès e sua recusa a tornar a fazer uso dos planos
mais aproximados, remeta a um sistema francamente em desuso na época de sua
produção, deve-se ter em conta que um dos elementos que talvez foi mais
justamente celebrada na obra do realizador, a magia que emana de sua
cenografia, é mais do que bem explorada nesse filme, onde boa parte da ação
evoca o que seria o interior de um vagão de trem, e boa parte dele, exatamente
nesse mesmo momento, lembra um pouco um flicker film dos anos 60, dada
ao fato da cópia se encontrar seriamente danificada. Aqui, e apenas aqui, não
apenas o filme não parece um tentativa temporã de comédia, como ainda se presta
a antecipar muito do que viria
posteriormente, como é o caso do momento em que acompanhamos simultaneamente ao
que ocorre em dois compartimentos contíguos do trem. Mesmo que a legitimidade
de suas pretensões de humor não ocorra de fato, ao menos uma cena é digna de
nota, por sua verve cômica – e mesmo antecipadora dos Irmãos Marx: a que, após
várias tentativas frustradas de resgatar o protagonista, acidentalmente jogado
no poço por seus credores, os soldados acabam fazendo uma escada humana com
seus próprios corpos. Ainda que o título, quando comparado a obra mais célebre
do realizador, Viagem à Lua (1902),
sugira uma maior aproximação com elementos do universo cotidiano que
fantástico, a súbita aparição, sem a menor explicação racional, dos credores,
aparecendo e sumindo a partir do nada – e o que é pior, a partir de truques por
vezes menos bem conseguidos que sua produção anterior, como é o caso do visível
alçapão ao chão, por onde desaparecem os credores – parece apontar sentido
oposto. Ou ainda pior, o uso das mesmas trucagens que eram mais bem adaptadas
ao seu habitual universo onírico-fantástico para um tema que, mesmo trabalhado
de forma extravagante, possui um apelo mais próximo de realista. É tido como o
último filme do realizador. Pathé Frères. 15 minutos e 29 segundos.
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