Filme do Dia: Crime e Castigo (1983), Aki Kaurismäki

 


Crime e Castigo (Rijos já Rangaistus, Finlândia, 1983). Direção: Aki Kaurismäki. Rot. Adaptado: Aki Kaurismäki & Pauli Pentti, a partir do romance de Fiódor Dostoievski. Fotografia: Timo Salminen. Música: Piedro Hietanen. Montagem: Veikko Aaltonen.  Dir. de arte: Matti Jaaranen. Figurinos: Marja Uusitalo. Com: Markku Toikka, Aino Seppo, Esko Nikkari, Hannu Lauri, Olli Tuominen, Matti Pellonpää, Kari Sorvali, Pentti Auer.

Antti (Toikka) entra no apartamento de um empresário, Sormunen (Auer) e o assassina. Pouco depois chega uma moça, Eeva (Seppo) que iria participar da organização de uma festa no local. Ela testemunha que ele foi o responsável pela morte do homem, mas não o denuncia. Pelo contrário, torna-se próximo dele. Desde o início tido como o principal suspeito do Inspetor Pennanen (Nikkari), Antti nunca consegue ser incriminado pelos policiais e quando finalmente o é, a partir de uma pista que ele próprio indiretamente forneceu à polícia, já se encontra em outro país. Mas, subitamente, decide voltar e se entregar.

Há algo de involuntariamente comovente na forma que se observa um artista em início de sua carreira, desenvolver temas e estilos que posteriormente lhe serão creditados como marcas autorais nessa filme de Kaurismäki, o primeiro de ficção. De fato, muito do que posteriormente se encontraria no seu cinema já se encontra presente nessa adaptação um tanto marcada por uma presença de humor francamente latente. Esse último se dá na forma afrontosa com que   Antti  se dirige aos policiais. Ou ao mostrar a cena doméstica do investigador, com seu gato e esposa do lado, ser interrompida, quando assistia TV, para atender uma ligação, quase numa contrafação derivativa de Hitchcock. E ainda na utilização da épica trilha do Encouraçado Potemkim para cenas que são marcadas por uma ausência de teor dramático convencional que, uma vez mais, beira às raias do riso. E tudo isso feito de forma mais canhestra em termos de produção, assim como de interpretações, o que ao invés de depor contra, parece lhe assegurar um charme adicional, além da presença de uma improvável adaptação do mais célebre romance de Dostoievski. De forma mais canhestra, leia-se, em relação ao que virá depois, em boa parte realizada com o mesmo elenco e equipe técnica. E se a cena do parlatório parece diretamente vinculada ao Pickpocket (1959), de Bresson, Kaurismäki se recusa a observar qualquer redenção em seu personagem, que permanece fiel ao seu isolamento do mundo e dos outros, recusando o amor que lhe é ofertado por Eeva. Villealfa Fimproductions. 93 minutos.

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