Filme do Dia: Metello, um Homem de Muitos Amores (1970), Mauro Bolognini

 


Metello, um Homem de Muitos Amores (Metello, Itália, 1970). Direção: Mauro Bolognini. Rot. Adaptado: Luigi Bazzoni, Mauro Bolognini, Susu Cecchi D´Amico & Ugo Pirro, baseado no romance de Vasco Pratolini. Fotografia: Ennio Guarnieri. Música: Ennio Morricone. Montagem: Nino Baragli. Dir. de arte: Guido Josia & Pier Luigi Samaritani. Figurinos: Pier Luigi Samaritani. Com: Massimo Ranieri, Ottavia Piccolo, Frank Wolf, Tina Aumont, Lucia Bosé, Pino Colizzi, Mariano Rigillo, Luigi Diberti.

Metello (Ranieri), que perdeu a mãe e o pai antes de completar a maioridade, decide se estabelecer em Florença na última hora que sua família adotiva se muda. Iniciado sexualmente pela madura viúva Viola (Bosé), Metello se envolve com simpatizantes do socialismo, de quem seu pai fora ardoroso defensor, o que acaba levando-o à pena de mais de um ano de prisão, após se negar a entregar as bandeiras comunistas no enterro de um companheiro de trabalho que morreu acidentalmente após uma discussão com o patrão. Metello se apaixona por sua filha, Ersilia (Piccolo), e promete que irá casar-se com ela quando sair da prisão. É o que faz. Porém, o casamento é prejudicado por seu intenso envolvimento numa greve, como igualmente por seu relacionamento com a vizinha Idina (Aumont), que o seduziu. Após ser novamente condenado à prisão, por conta do conflito armado que houve, o casal tem chances de recuperar suas vidas graças à generosidade da ex-amante de Metello, Viola.

O universo de Pratolini, autor do livro e de inúmeros roteiros para o cinema não é muito amplo: trata-se de um humanismo simpático às causas de esquerda, a investigar famílias ou indivíduos de origem proletária que lutam tenazmente pela sobrevivência num mundo injusto. Nas mãos de Bolognini, tal universo repleto de doses de manipulação emocional e personagens esquemáticos, é ainda menos bem sucedido que em outras adaptações que conseguiram transcender a mera equação drama social + comentário político, como fizeram Rossellini em Paisà, no qual consegue drenar a veia excessivamente sentimental ou Visconti com Rocco e Seus Irmãos, uma obra-prima sob a chave do melodrama. Mesmo sem maiores pretensões autorais e, talvez em conseqüência de tanto, já excessivamente servil ao universo de Pratolini, Dois Destinos (1962), de Valerio Zurlini, ainda assim consegue resultados bem superiores. Para Bolognini sobra quase que somente o que há de negativo em Pratolini: os excessos sentimentais, a caricatura da construção dos personagens a partir de sua condição burguesa (o patrão) ou de maiores pretensões a tanto (caso da vil amiga da mulher de Metello e do amigo de infância que procura furar a greve a qualquer custo). O tratamento rasteiro com que o cineasta explora tanto o tema político (ao contrário de boa parte dos dramas políticos italianos da época) quanto o sentimental/sensual (incluindo uma investida no homem como objeto do desejo como é típico de Pratolini e a própria carreira pregressa na comédia erótica por parte de Bolognini), acabam sugerindo uma mera exploração de uma fórmula que já demonstra anteriormente ter sido bem sucedida. Com relação à dimensão erótica, a cena que o protagonista se banha e passa a ser desejado pela viúva de posses, possui uma relação direta com a que Rocco, no banho, passa a ser assediado por um treinador de boxe. Cruzando os clímaxes do auge do movimento grevista com o auge da crise do triângulo amoroso (por sinal, uma característica típica da dramaturgia burguesa), o filme apenas acentua o tom folhetinesco e provinciano, sendo que a comodatícia recusa de pretensões políticas do protagonista ao final para se dedicar somente a sua família (com direito simultaneamente ao momento mais grandioso da  bela trilha de Morricone) possui um nível de conformismo que tampouco vem a ser ao menos explorado, como em boa parte das produções da época. Piccolo foi premiada como melhor atriz em Cannes. Docuemento. 107 minutos.

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