Filme do Dia: Is That All There Is? (1995), Lindsay Anderson
Is That All
There Is? (Reino Unido, 1995). Direção e Rot. Original: Lindsay Anderson. Música:
Alan Price. Montagem: Nicolas Gaster.
Singelo documentário, dedicado a duas
atrizes que haviam se suicidado, Jill Bennett e Rachel Roberts, sendo a última
atriz que marcou os anos mais produtivos do drama realista kitchen sink britânico dos idos de 1960, e que tem suas cinzas
(simbólicas ou reais) jogadas ao vento em um passeio no Tâmisa (algo evocativo
do final de Lightining Over Water,
porém destituído do tom algo fake
daquele). Evidentemente também foi pensado como um filme-testamento pelo
próprio Anderson, que morreria antes de vê-lo lançado. É singelo, sobretudo,
por apresentar o cotidiano do realizador, destituído do glamour e/ou sentimentalismo
habitualmente oferecidos quando se refere ao mundo dos astros e realizadores do
cinema. Aqui, ao contrário, o cineasta se observa com fleugma e dignidade
britânicas, de roupão e despejando redoxon para ingerir com algumas pílulas, na banheira rodeado pelos cartazes de suas
realizações ou saindo de sua modesta casa para fazer compras na vizinhança. Ou
ainda fazendo uso do cartão que lhe dá direito ao transporte urbano público,
encontrar membros da família – num desses encontros ocorre uma tensão com o
sobrinho que leva um tombo na cadeira, conversar com um crítico de cinema a
respeito de John Ford ou sugerir a entonação correta que a faxineira deve
cantar uma canção enquanto lava os pratos. É um auto-retrato que sinaliza para
a solidão – não há menção há qualquer companhia afetiva do realizador – mas
longe da auto-comiseração sugerida por seu comtemporâneo Terence Davies quando
imagina o seu futuro ao final da trilogia que leva seu nome. Sua atitude
politicamente engajada é referida na contraposição de imagens que intercala a
fartura dos produtos oferecidos no supermercado ao qual Anderson compra com
imagens de africanos esquálidos e famélicos. Mesmo que possa soar simplória,
funciona bem no todo da obra. A canção que faz menção o título é apresentada por Alan Price, músico
de muitas colaborações para o cinema (incluindo Um Homem de Sorte, de Anderson). Num meio termo entre o cinema
direto e a encenação, ou uma encenação que se pretende cinema direto, Anderson
acaba se dirigindo ao cinegrafista após sair da venda, rompendo com o que
parece ser a postura predominante do filme. Detalhe: dentre as notícias que a
rádio se refere no momento que Anderson acorda se encontram a do impeachment
do presidente Collor de Mello; posteriormente se observa a festa
generalizada na África do Sul após a libertação de Nelson Mandela na TV. BBC Scotland/Yaffle
Films. 52 minutos.
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