O Dicionário Biográfico de Cinema#143: John Milius

 

John Milius, n. St. Louis, Missouri, 1944

1973: Dillinger [Dillinger: Inimigo Público nº1]. 1975: The Wind and the Lion [O Vento e o Leão]. 1978: Big Wednesday [Amargo Reencontro]. 1982: Conan the Barbarian [Conan, o Bárbaro]. 1984: Red Dawn [Amanhecer Violento]. 1989: Farewell to the King [Uma Vida de Rei]. 1991: Flight of the Intruder [Intruder A-6: Um Voo para o Inferno]. 1994: Motorcycle Gang [Reação Mortal] (TV). 1997: Rough Riders [Bravos Guerreiros] (TV)

O pai de Milius era um sapateiro. Quando a família se mudou para a Califórnia, a criança se dedicou ao surf, kendô, Hemingway, Patton, MacArthur, e Teddy Roosevelt. Nos últimos anos de adolescência, o estudo e uso de armas foi acrescentado ao panteão. Milius estudou cinema na University of Southern California, e passou a escrever roteiros com fúria. Muitos foram arquivados, mas ganhou o crédito por The Devil's 8 [Os 8 do Diabo] (69, Burt Topper), e logo a seguir utilizou o seu conhecimento da Guerra do Vietnã e sua simpatia por heróis-tiranos para escrever a primeira versão de Apocalipse Now, para Coppola. As dinâmicas sequencias em Kilgore no filme concluído parecem próximas de Milius. 

Em poucos anos seguintes, Milius reescreveu Dirty Harry [Perseguidor Implacável] (71, Don Siegel), e indubitavelmente  contribuiu para o vigilante fervor, entornando o costumeiro cinismo de Siegel; também trabalhou em Evel Knievel [Evel Knievel - O Rei das Proezas] (71, Marvin Chomsky), outro filme que pode ter se beneficiado por mais do entusiasmo de Milius por seu tema. Também escreveu Jeremiah Johnson [Mais Forte que a Vingança] (72, Sydney Pollack); The Life and Times of Judge Roy Bean [Roy Bean - O Homem da Lei!] (72, John Huston); Magnum Force [Magnum 44] (73, Ted Post), escrito com Michael Cimino; e Melvin Purvis - G Man (74, Dan Curtis). Estes são quatro filmes problemáticos: Mais Forte que a Vingança requer mais extravagância  que Redford ou Pollack poderiam fornecer. Ao invés de um tratado ecológico, deveria ter sido uma lenda do deserto, Jack London no limite de Rei Ubu. Roy Bean sacrificou a loucura à excentricidade. Magnum 44 serviu demasiado como veículo para Clint Eastwood, e demasiado pouco como estudo do fascismo vestindo um distintivo. E Melvin Purvis foi uma reflexão tardia para o primeiro longa de Milius. 

Dos filmes que Milius dirigiu, Dillinger é o melhor: filmado com elegância libertina e humor, elenco criativo e realizado com a mesma bravura sardônica que caracterizava Scarface. A rivalidade de Ben Johnson e Warren Oates é sempre cômica, mas nunca exagerada. O Vento e o Leão é Rooseveltismo jubilosamente fabricado, com Sean Connery como um berbere. É o tipo de filme de livro de heróis adolescentes, um tolo, mas consistente retorno ao cinema dos anos 40 e a confiança imperialista anterior. O faro para aventuras juvenis foi tão forte em Amargo Reencontro, um hino ao surf, e a narrativa menos focada de Milius. 

Ao longo dos anos ganhou a reputação, e até a provocou, junto à imprensa, de um reacionário estridente brandindo uma magnun. Mas ele é mais que isso. É um anarquista, é um articulado, e possui uma inabalável fé na grandeza humana que poderia funcionar muito bem com um tópico mais monótono do que já assumiu. O cinema pode ser também demasiado pequeno ou efêmero para ele. Mas já possui uma grande cena: ajudou a escrever o discurso pronunciado pelo Quint de Robert Shaw  no naufrágio do Indiannapolis em Jaws [Tubarão] (75, Steven Spielberg).

Também foi produtor-executivo em 1941 [1941: Uma Guerra Muito Louca] (79, Spielberg), que ajudou a escrever; em Hardcore [Hardcore - No Submundo do Sexo] (79, Paul Schrader); e em Used Cars [Carros Usados] (80, Robert Zemeckis). Um pouco depois, co-produziu Uncommon Valor [De Volta para o Inferno] (80, Ted Kotcheff) e Fatal Beauty [Beleza Fatal] (87, Tom Holland), e contribuiu para o argumento de Extreme Prejudice [O Limite da Traição] (87, Walter Hill).

Porém, como diretor variou e se desviou. Sua própria grande confiança e o lirismo de seu heroísmo tem soado forçado. Conan, o Bárbaro, deu um impulso a carreira de Arnold Schwarzenegger; Intruder A-6: Um Voo para o Inferno e Amanhecer Violento foram abjetos e estúpidos. Uma Vida de Rei é o único projeto interessante, embora fique muito aquém do potencial de Melville. 

Em 1993, Milius não fazia mais que o roteiro de Geronimo [Geronimo: Uma Lenda Americana] (Walter Hill). Um ano depois escreveu Clear and Present Danger [Perigo Real e Imediato] (94, Phillip Noyce). Seus dois filmes para a TV repetiam seus interesses anteriores e juvenis.

Então posteriormente, foi escritor e criador-produtor da série de TV Rome [Roma] (05-07). Teve, um derrame, mas se recuperou e está desenvolvendo um filme ou minissérie sobre Genghis Khan.

Texto: Thomson, David. The Biographical Dictionary of Cinema. Nova York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 1804-6.

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