Filme do Dia: Amanhecer Violento (1984), John Milius

 


Amanhecer Violento (Red Dawn, EUA, 1984). Direção John Milius. Rot. Original John Milius & Kevin Reynolds, a partir do argumento do último. Fotografia Ric Waite. Música Basil Poledouris. Montagem Thom Noble. Dir. de arte Jackson De Govia & Vincent M. Cresciman. Cenografia Loweel Chambers. Guarda-Roupa George L. Little. Com Patrick Swayze, C. Thomas Howell, Lea Thompson, Charlie Sheen, Darren Dalton, Jennifer Grey, Brad Savage, Doug Toby, Ben Johnson, Harry Dean Stanton, Ron O’Neal, Powers Boothe.

A Terceira Guerra Mundial chega ao território americano, o último bastião da liberdade em um mundo dominado pelo comunismo. Numa pequena cidade do Colorado, Jed (Swayze) se torna membro de um grupo de resistência que fará grandes estragos ao exército invasor, uma mescla de cubanos, nicaraguenses e soviéticos.  Em um primeiro momento o grupo, também composto pelo irmão de Jed, Matt (Sheen), refugia-se nas montanhas. Depois, retornam a uma cidade já ocupada pelos invasores, com muitos de seus pais e conhecidos mortos ou aprisionados. Com o casal Jack (Johnson) e sua esposa, o grupo é acolhido e os mesmos entregam seus netos aos cuidados do grupo, Toni (Grey) e Erica (Thompson). Autobatizados como Wolverines, o grupo ganha um aliado militar, o Tenente Coronel Andrew Tanner (Boothe), que os orienta para ações mais estratégicas e ousadas, nas quais o próprio Tanner vem a morrer, assim como outros do grupo. Mesmo sem se encontrarem após a guerra finda, a sensação de dever cumprido (dos que sobreviveram) e um monumento a sua coragem ganha destaque.

Quando se fica em dúvida sobre a metralhadora giratória de referências, as do quesito para além do ideológico, esta produção, talvez o que se melhor conseguiu em termos de propaganda ideológica da chamada Nova Guerra Fria, parece entregar a resposta pouco depois a nos confirmar. É o caso do primeiro plano de uma típica cidadela americana, tal como a de A Última Sessão de Cinema, aqui apresentada sob um viés mais conformado e simpático que no filme de Bogdanovich. Mero chute? Ben Johnson emerge pouco depois no elenco para desfazer qualquer dúvida. O garoto urinando no radiador do carro que os transportou à segurança das montanhas no momento da invasão é uma referência a uma célebre cena de um filme de Dovjenko? Pouco depois, o filme em cartaz, surpreendentemente, é Alexandre Nevski, de Eisenstein. Por que os soviéticos ocuparam o cinema da cidadela com uma produção tão antiga não se sabe. E não há como não rir dos excessos. É o caso dos letreiros iniciais, a demonstrarem os Estados Unidos como últimos bastiões do mundo livre. Ao menos até a invasão. Ou das lágrimas de Swayze a se despedir do pai, papel entregue a outro gigante do cinema nacional, Harry Dean Stanton – Milius querendo ser John Ford no uso de coadjuvantes de peso? Há momentos de pieguice mais absoluta, dignas de humor involuntário, mas há também um senso de construção visual e ritmo longe de se render ao mero fisiologismo do efeito em si das ações e explosões, como se torna praxe nos blockbusters da década, e que Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida se torna referência inescapável. Dito isto, e ao contrário do filme de Spielberg, a irrealidade por vezes é digna ou menos crível ainda que a de um Rambo, quando se leva em conta a habilidade de um grupo de jovens mal saído da puberdade no manejo de equipamento bélico contra soldados de um exército!! O mesmo o qual observaram tempos antes a possuir equipamentos muito mais sofisticados que os do próprio exército americano, em completa sintonia com o discurso político da época a justificar o retorno da corrida armamentista. E não menos curioso que o único a possuir experiência militar venha a morrer dos “wolverines”, cujo amadorismo parece sinônimo de superioridade.  Numa década tão árida para o western, e cujos títulos de maior repercussão de público ou foram paródias esculachadas (Três Amigos! o exemplo mais típico) ou fracassos memoráveis de grande repercussão não apenas para o gênero, mas para a indústria como um todo (Portal do Paraíso), sua mitologia está maciçamente presente em filmes de ação como este, da família parcialmente morta ou aprisionada – em espectro mais amplo, para a sociedade como um todo – aos cavalos, rifles e trilhas observadas a partir de despenhadeiro.  Não faltam referências ao autoritarismo dos regimes de esquerda, que vão desde elementos de cena (marquises de cinema, posters de Lenin e referências ao Novo Homem, avatar típico de projetos ideológicos radicais de ambos os matizes ideológicos) até os devidamente incluídos na narrativa como elemento dramático de primeiro plano, caso dos “campos de reeducação”, execuções em massa e que tais. Não se tem muita ideia do projeto de ocupação em curso, além de serem um alvo (inacreditavelmente fácil) dos espertos guerrilheiros. Refilmado trinta anos depois. |United Artists/Valkyrie Films. para MGM/UA. 114 minutos.

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