Filme do Dia: Indústria Automobilística (1964)
Indústria Automobilística (Brasil,
1964). Fotografia Giulio de Luca. Montagem Italo di Bello, Ubirajara Dantas
& Irene Soares.
Difícil encontrar um modelo que
personifique melhor a atualização das “cavações” mudas, que muitos dos curtas
produzidos por Manzon. De fato, nem se precisa elencar alguém como diretor, já
que essa função talvez se encontre minimamente associada a algum tipo de
controle criativo – basta lembrar o que um nome como Resnais efetuou para uma
encomenda igualmente da indústria em seu Le Chant du Styrène, meia
década antes e também em cores vivas. E para ficar nas últimas, por exemplo, o
que se transformava em um prazer estético-visual em algumas cenas do curta
francês, aqui, numa fotografia em cores tecnicamente impecável, algo ainda raro
aos filmes de ficção no país, transforma-se em uma ode ao desejo de consumo.
Inicia-se com uma pista de corridas, onde os modelos da indústria
automobilística brasileira são testados. Na verdade, não da indústria
automobilística brasileira como um todo, como espertamente sinaliza o título,
mas sim de uma indústria específica, a DKW-Vemag, que segundo o típico narrador
para esse tipo de produto, com inflexão masculina, profissional e aparentemente
conhecedora sobre o que fala (de Luiz Jatobá), traz carros completamente
produzidos no Brasil (em uma nota ufana que também não pode faltar a essa
produção). Fala-se sobre a importância das indústrias paralelas, que a
automobilística gera e se aprofunda em vários setores da fábrica da DKW,
ressaltando a pesquisa nos laboratórios, onde se testa, em escala por vezes
microscópica, os materiais que serão utilizados na confecção dos veículos,
reforçando o que já se havia observado nas imagens iniciais e que será
novamente aludida nas imagens de vários veículos atravessando uma estrada
calculadamente cheia de profundos sulcos na terra, de forma a testar os
amortecedores dos mesmos. A imagem final, com dezenas de veículos dispostos no
que seria o pátio da indústria, composto de um piso de modesta terra, soa como
uma interferência direta daqueles que encomendaram o curta, fixando-se ao final
na marca do produto na lataria de um desses veículos. Jean Manzon Produções. 9
minutos.
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