Filme do Dia: Tabu (1931), F.W. Murnau

 


Tabu (Tabu, EUA, 1931) Direção: F.W.Murnau. Rot. Original:  F.W.Murnau, Robert Flaherty & Edger G.Ulmer. Fotografia: Floyd Crosby. Música: Hugo Risenfeld. Montagem: Arthur   A. Brooks. Com: Reri, Matani, Hitu, Jean, Jules, Kong Ah.

Reri, jovem nativa taitiana, tem sua paixão por um rapaz interrompida com a chegada de um líder espiritual, Hitu, que a escolhe para continuar uma ancestral tradição em que a escolhida é uma virgem que se torna um tabu, intocável para qualquer mão humana. Mesmo desesperada a moça parte com Hitu. Inconsolável, Hatani, a seqüestra e passa a viver paradisiacamente em outra ilha do arquipélago. Hatani se revela um exímio caçador de pérolas e, quando chega um policial do governo francês para que o casal seja preso, buscando contornar uma situação que pode gerar uma crise institucional na colônia, Hatani o suborna com pérolas. Porém, aos poucos, o sonho paradisíaco do amor se desfaz com as constantes visões que Reri têm de Hitu. Temendo a morte de Hatani - já que Hitu havia admoestado que assim ocorreria caso ela não cumprisse com suas mensagens - Reri abandona Hatani e parte com Hitu para o mar. Hatani descobre e consegue, com muito esforço, aproximar-se do barco e até alcançar a corda do mesmo, mas Hitu acaba cortando a corda e Hatani morre afogado.

Filme-testamento do célebre diretor Murnau - que morreria em acidente de automóvel pouco antes de seu lançamento - possui a difícil virtude de, com uma narrativa de extrema simplicidade, sensibilizar com temas de grandeza universal e atemporal como o amor e a morte. A sensibilidade de Murnau para evocar temas metafísicos possui uma marca rara de, quase sempre, não dissociar-se da mais palpável realidade sensível. Para evocar a Queda e o Paraíso Perdido nada de efeitos de gosto duvidoso, apenas as próprias locações naturais e os nativos do local. Ainda que sonoro, o filme não utiliza-se mais que da trilha-sonora e da poesia visual de suas imagens para compor uma pungente e agridoce incursão pastoral em alguns dos temas mais caros aos homens. Seu final, melancólico, parece apontar que toda civilização não pode ter continuidade, sem penosos sacrifícios pessoais. Não há como não traçar uma analogia com outros dois filmes de outros dois gênios do cinema, É Tudo Verdade de Welles e Que Viva México de Eisenstein. Em todos uma imensa curiosidade pelo “outro” que, embora involuntariamente permeada pelo olhar etnocêntrico, secundarizam toda e qualquer diferença frente a temáticas tão universais como o amor e a morte. Em todos, o fato de ser uma realização que se destaca do conjunto das obras dos realizadores, seja pela estrutura semi-documental, com utilização de nativos como atores, seja pelo caráter marginal frente ao grande público e os inevitáveis problemas de financiamento (os de Welles e Eisenstein permaneceram inconclusos). National Film Registry em 1994. Paramount. 84 minutos.

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