Filme do Dia: Pelo Rei e Pela Pátria (1964), Joseph Losey



 Pelo Rei e pela Pátria (King & Country, Reino Unido, 1964). Direção: Joseph Losey. Rot. Adaptado: Evan Jones, baseado na peça Hamp, de John Wilson, que é baseada no romance Return to the Wood, de J.L. Hodson. Fotografia: Denys N. Coop. Música: Larry Adler. Montagem: Reginald Mills. Dir. de arte: Richard Macdonald & Peter Mullins. Figurinos: Roy Ponting. Com: Dirk Bogarde, Tom Courtenay, Leo McKern, Barry Foster, Peter Copley, James Villiers, Jeremy Spenser, Barry Justice, Vivian Matalon.


I Guerra Mundial, 1917. Após 3 anos no campo de batalha, o soldado Arthur Hamp (Courtenay), único sobrevivente de seu pelotão, é preso por alegada tentativa de deserção. O Capitão Hargreaves (Bogarde) decide ser seu advogado de defesa, defendendo a posição de que ele não se encontrava mentalmente equilibrado. Um tribunal de guerra é montado. Hargreaves faz uma defesa eloquente, mas pouco depois, quando visita Hamp a pedido desse, sabem que ele foi condenado e será executado na manhã seguinte. Hargreaves tenta saber o motivo da condenação com o coronel (Copley) que havia presidido o júri e tampouco parecia concordar com os motivos da condenação, afirmando que, no entanto, havia recebido um telegrama dos superiores de que o condenassem para manter a moral da tropa elevada, já que partiriam em nova missão no mesmo dia de sua execução. Na véspera de sua execução, Hamp confraterniza pela última vez com os colegas, bebendo vinho e depois recebe a visita do Tenente Webb (Foster), que o dopa após ter recebido a comunhão do padre (Matalon).  Hamp é fuzilado no dia seguinte. Como sobrevive aos tiros, recebe um tiro de misericórdia de Hargreaves.

Losey se afasta da espetacularização da guerra e de muitas das convenções demasiado próximas dos filmes de gênero – logo ao início do filme, por exemplo, sabe-se de antemão qual será o destino de Hamp, a partir do momento em que ocorre uma fusão de uma caveira ainda envergando um traje militar para Hamp tocando sua gaita. E tampouco Losey se encontra preocupado em demasiado com o elemento visual. À parte seus requintados movimentos de câmera como o que inicia o filme e um breve momento em que ocorre uma fusão poética de imagens, são as interpretações e os diálogos que sustentam o filme, que não consegue e talvez nem mesmo pretenda, esconder suas origens teatrais. Mesmo deixando bastante evidente a realidade diversa dos oficiais e soldados, é a própria lógica em si das instituições que é posta em questionamento. Seja na hierarquia militar e seu arremedo de justiça articulado em meio a lama e os ratos, que se contrapõe a lógica da maioria dos soldados e oficiais. Seja no vislumbre irônico que acompanha a visita de representantes do saber  médico e religioso ao condenado. As interpretações são mais que razoáveis, com destaque para o atrapalhado Hamp de Courtenay e sua dificuldade de auto-expressão, para o compassivo Hargreaves e o fleumático coronel de Copley. O filme pode ser visto como um contraponto grave ao igualmente anti-militarista Dr.Fantástico, do mesmo ano. Uma de suas fraquezas, que o tempo apenas acentuou, é o seu tom quase didático, como quando contrapõe desnecessariamente o julgamento de Hamp e a paródia do mesmo orquestrada pelos soldados com um rato. A única e breve presença feminina se faz quando Hamp fala de seu passado para Hargreaves. O uso expressivo da foto fixa foi efetuado a partir de material do Museu Imperial da Guerra britânico. Existem várias versões do filme, uma delas 7 minutos mais longa que essa. BHE Films/Landau-Unger  para Warner/Pathé. 82 minutos.

Postada originalmente em 07/08/2014

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