O Dicionário Biográfico de Cinema#121: Harry Langdon

 

Harry Langdon (1884-1944), n. Council Bluffs, Iowa

The Picturegoer's Who is Who de 1933 não havia entrada para Harry Langdon, tão completa havia sido sua queda. Nada que fizesses nos seus últimos onze anos lhe restauraria sua antiga glória. Mas o fato que tenha vivido tão infeliz tem se tornado hoje parte da lenda de Langdon, o posfácio sombrio para mais uma carreira arruinada pela insensibilidade de Hollywood.

No entanto, as pessoas também devem ser creditadas pelos maus filmes e erros, tanto quanto por seus sucessos. Langdon lidou de forma imprudente com seus casos e, mais importante, possuía uma compreensão insegura do porque era divertido. Pensemos nós dos comediantes como palhaços instintivos ou bem humorados ou como homens desencantados que  nos fazem sorrir para pararem de chorar, nenhuma interpretação se ajusta bem com o próprio comediante enquanto técnico profissional. Parece existir, intrinsecamente, um abismo entre a inteligência atormentada e a imagem da tela de sincera inocência no centro de um desastre cômico. As platéias tendem a ser menos inquisidoras sobre a fabricação da comédia que sobre os recursos do drama. E os homens que comandam a indústria tem algumas vezes tratado os comediantes com tal brutalidade, que poderiam estar agindo na suposição de que nenhum comediante era realmente responsável por sua carreira. O reverso dramático na fortuna de Harry Langdon pode até residir de sua tentativa de se afastar do simplório de calças largas e cara de bebê que interpretou tão bem em tão poucos filmes. Mas ainda que em tão poucos, foi uma criação de Langdon ou uma luz que rapidamente se apagou nele,  a qual nem ele próprio viu? Langdon tinha errado bastante antes de entrar no cinema, e era uma maravilha que ainda parecesse vulnerável.  Havia feito parte de um show de medicina dos índios Kickapoo, sido malabarista, palhaço de circo e um cartunista de jornais antes de ingressar no vaudeville. Permaneceu vinte anos sem sequer se aproximar do topo. Em 1923, Mack Sennett recrutou-o, provavelmente alertado pelo criador de gags, Frank Capra. O sonhador que vivia no mundo da lua de Langdon evoluiu em uma série de filmes de dois rolos, guiado pelo diretor Harry Edwards e os criadores de gags Capra e Arthur Ripley. Langdon possui um pequeno papel em um filme com Colleen Moore, Ella Cinders [O Prêmio de Beleza] (26, Alfred E.Green), mas abandonou Sennett pelos Warners e formou a Harry Langdon Corporation, para seu primeiro longa, Tramp, Tramp, Tramp [O Andarilho] (26, Edwards), com créditos para seis criadores de gags, incluindo Capra. Sennett então lançou um longa prévio, His First Flame, também dirigido por Edwards e com assistência de Capra e Ripley.

Não há dúvidas sobre o sucesso da equipe: em O Andarilho, e seus filmes seguintes, Langdon é uma droga muito cativante. E pode ter sido apenas uma bastante perspicaz manipulação do embotamento de Langdon. Há momentos em que ele parece casual ou indiferente, como se não estivesse plenamente consciente do que acontecia ao seu redor - imagine o Magro sem o Gordo, imagine o Magro preocupado com uma derrota, e você estará surpreendentemente próximo de Harry Langdon, não apenas em sua aparência, mas em seu desânimo auto-absorto. 

Mesmo assim, Langdon agora era imensamente popular. Seu filme seguinte, The Strong Man [O Homem Forte] (26, Frank Capra), foi o seu melhor. Por que Capra assumiu não é muito claro, nem a clareza extra que se prova com a chegada dele. Mas o grupo era dividido. Long Pants [Pinto Calçudo] (27, Capra), foi realizado com Capra, Ripley e Langdon brigando e, quando concluído, Capra foi demitido. Capra reagiu fortemente em uma carta à imprensa, que acusava Langdon de uma interferência vã e prejudicial. Gente talentosa frequentemente briga, mas o quanto disso se deve a disparidade entre o Langdon real e a figura que Capra ajudou a criar? A Langdon Corporation perseverou e os três filmes seguintes foram dirigidos pelo próprio Langdon: Three's a Crowd [Pai Sem Selo], que possui uma nova e não bem vinda gravidade; The Chaser [O Conquistador] (28); e Heart Trouble [Mal do Coração]. São filmes inferiores que não retornaram bem em termos de ganhos.

Os Warners deixaram-no ir, e estava sem emprego. Então Hal Roach realizou uma série de curtas com ele, e em 1930 a Universal o uniu a Slim Sumerville em See America Thirsty [Valentes à Força] (30, William James Back). Voltou então aos Warners para A Soldier's Plaything (30, Michael Curtiz), mas no ano seguinte estava quebrado.

Daí, somente dois anos após, sua retirada de livros de referência. O som somente sublinhou a ausência de personalidade. Aqui e acolá durante os anos 30, fez mais curtas cômicos e apareceu em uns poucos longas. Foram, gerealmente, obras menores e nada que Langdon tenha feito sugeriu que fosse digno de coisas melhores: Hallelujah, I'm a Bum [O Venturoso Vagabundo] (33, Lewis Milestone); My Weakness [Meu Beguin] (33, David Butler); There Goes My Heart [Aí Vem Meu Coração] (38, Norman Z. McLeod); com Oliver Hardy em Zenobia (39, Gordon Douglas); All-American Co-Ed [Pândega Universitária] (41, LeRoy Prinz); Spotlight Scandals (43, William Beaudine); Block Busters (44, Wallace Fox); e Swingin' on a Rainbow (45, Beaudine); também ajudou a escrever um filme de o Gordo e o Magro, A Chump at Oxford [Dois Palermas em Oxford] (40, Alfred Goulding).

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Cinema. Nova York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 1500-1502. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar