Filme do Dia: Armadilha Mortal (1982), Sidney Lumet
Armadilha Mortal
(Deathtrap, EUA, 1982). Direção:
Sidney Lumet. Rot. Adaptado: Jay Presson Allen, a partir da peça de Ira Levin.
Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Música: Johnny Mandel. Montagem: Jack
Fitzstephens. Dir. de arte: Tony Walton & Eduardo Pisoni. Cenografia: George DeTitta Sr. Figurinos: Tony Walton.
Com: Michael Caine, Christopher Reeve, Dyan Cannon, Irene Worth, Henry Jones,
Joe Silver, Tony DiBenedetto, Al LeBreton.
Escritor
de peças de mistério que um dia foram sucesso, Sidney (Caine), desesperado com
o fracasso de mais uma de suas peças, desaba ao chegar em casa diante de sua
esposa, Myra (Cannon) e decide chamar um jovem talento que lhe enviou uma peça
interessante, Armadilha Mortal,
Clifford (Reeve). Porém, em meio a conversa uma tensão surge, Clifford é
algemado e quando respira aliviado por ter Sidney encontrado a chave que o
livrará, descobre que não se trata da chave e Sidney voa em cima dele
sufocando-o barbaramente até a morte, para o terror da testemunha ocular de
tudo. No dia seguinte, recebem a visita de uma vizinha abelhuda e sensitiva,
Helga ten Dorp (Worth), que sente uma energia pesada no ar. E adivinha diversas
coisas vinculadas ao casal.
Lumet
se delicia com a estrutura do filme de charada, aproximando-se mais dos
exemplos menos associados com a ideia obsessiva de quem teria sido o autor do
crime, que com jogos e reviravoltas nas relações de poder, de forma mais
descompromissada do que talvez tenha sido seu modelo maior (e mais bem
sucedido), Jogo Mortal. Aqui a referência (e reverência) ao teatral
surge menos como incorporada em sua ficção, muito distante do brilho dos
diálogos e da intepretação relativamente não naturalista do filme de
Mankiewicz, que no jogo frenético de espelhamentos entre vida e ficção, até
mesmo antropofagizando o próprio evento dramático retratado ao final. E fazendo
uso do teatro e do palco em que a peça de Levin ainda era encenada sob direção
de Robert Moore (Assassinato por Morte). E Lumet também incorpora referências ao
universo desse subgênero de filmes, trazendo o Caine de Jogo Mortal, a quem batiza com o primeiro nome de si próprio e a
Cannon de outro filme contemporâneo, dos primeiros anos da década anterior, O Fim de Sheila. Nessa investida, uma
das mortes mais incômodas a ser representada – de longe a cena mais forte de
todo o subgênero, ao menos no período que abrange a década de 70 e idos da
seguinte – paradoxalmente demonestrará ser cênica como no teatro e golpes de
efeito ganham corpo em repertório mais próximo do horror (assim como a casa mal
assombrada em noite de tempestada, embora essa seja de um estilo e decoração
bem distante do gótico habitual, incorporados a Assassinato por Morte), por parte de um autor, cuja adaptação
cinematográfica mais célebre se ancorou no gênero (O Bebê de Rosemary). O arsenal de armas, aparentemente meros
objetos de cena, que Sidney possui em sua casa são evocados em uma releitura
posterior desse ciclo de filmes, citando vários dos mesmos, Entre Facas e Segredos. A representação
feminina da esposa aqui é construída com uma histeria e abestalhamento de
tinturas misóginas. Warner Bros. 116 minutos.
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