Filme do Dia: Vítimas do Pecado (1951), Emíliio Fernandez
Vítimas do Pecado (Victimas del Pecado, México, 1951). Direção:
Emílio Fernández. Rot. Original: Emilio Fernández, a partir de argumento dele
próprio e de Mauricio Magdaleno. Fotografia: Gabriel Figueroa. Música: Antonio
Díaz Conde. Montagem: Gloria Schoemann. Dir. de arte: Manuel Fontanals.
Cenografia: Manuel Parra. Com: Niñon Sevilla, Tito Junco, Rodolfo Acosta, Rita
Montaner, Ismael Pérez, Margarita Ceballos, Arturo Soto Rangel, Francisco
Reiguera.
Violeta (Sevilla) dança e canta em um
cabaré onde uma de suas colegas Rosa (Ceballos) abandona o filho em uma lata de
lixo por imposição de seu amante, o inescrupuloso Rodolfo (Acosta). Quando fica
sabendo, Violeta se revolta e adota a criança, granjeando a inimizade de
Rodolfo que a espanca, após tentar matar a criança e é preso por seis anos.
Enquanto isso, a dedicação de Violeta ao bebê a faz perder o emprego e chama
a atenção do compreensivo Santiago (Junco) que casa com Violeta e adota a
criança como sua. Quando o filho aniversaria 6 anos, Violeta estremece ao
pensar que Rodolfo está saindo do cárcere. Ele retorna ao cabaré, onde Violeta
ainda se apresenta, e mata Santiago. Violeta, por sua vez, mata-o ao vê-lo
estapeando o filho que adotara, Juanito (Pérez). Presa e com o filho tendo que
engraxar sapatos e vender jornais pelas ruas, a sorte de ambos muda quando se
deparam com um compreensivo diretor de prisão (Soto Rangel).
Esse rasgado melodrama de Fernandez,
um dos nomes referenciais do gênero no cinema clássico mexicano, afasta-se dos
temas envolvendo figuras emblemáticas associadas à identidade nativa, como o
seu mais célebre Maria Candelaria, filiando-se
ao gênero das cabereteras. Sevilla
reinava no gênero, com o apelo sensual de suas – por vezes ocasionalmente
desengonçadas – danças. Apesar da releitura positiva do gênero enquanto um dos
poucos exemplares de resistência ao patriarcalismo machista que dominava as
telas de então e sua aberta simpatia por sua protagonista, deve-se levar em
conta que o personagem da rumbeira sofre todo um processo de suavização e
adequação ao universo burguês – casamento, família com marido e filho, etc. Não
deixa de ser curiosa sua encarnação ao mesmo tempo como as figuras antípodas da
santa/puta, de marcados figurinos em ambos os casos, trocando-os, inclusive,
como num piscar de olhos, demarcando a dinâmica de vários papeis sociais
vividos simultaneamente. Porém, mais que as devidas restrições ao seu pretenso
progressismo, o que mais incomodará talvez ao espectador da segunda década do
século que segue ao que foi produzido seja o excessivo, mesmo para um gênero
conhecido por tal característica, como o melodrama, chamando potencialmente
para o riso involuntário. É o caso do choro sentido de Rosa, comentado in loco por Pedro Vargas, cantor-ator
mexicano que faz participação especial como ele próprio (aliás o nome de alguns
dos personagens como dos próprios atores acena talvez para o peso forte de suas
personas artísticas no cinema mexicano, ao contrário de semelhante uso feito
por algumas produções autorais modernistas). Dos tapas e da humilhação da mesma
pelo pachuco inescrupuloso vivido por
Acosta, da pieguice intensa que assoma na relação entre criança desprotegida e
mãe presa, assim como de um diretor de prisão com poder de juiz em seu afã de
fazer justiça “com as próprias mãos”. E, mais que todas as cenas, pela que
contrapõe a conscientização de Violeta de que já é tempo de Rodolfo abandonar a
prisão, seguida imediatamente pela imagem que comprova seu temor. Bem menos
povoado de cenas líricas ou pretensamente líricas quanto seu filme anterior
mais conhecido, ainda assim essa produção nos brinda com uma impressionante
composição visual em que a fumaça de um trem que passa embaixo da ponte onde
Violeta caminha com seu filho trai o seu visual, mais soturno e melancólico que
a ensolarada Xochimilco de Candelaria.
Não faltam sequer, algumas das interjeições mais eloquentes do gênero como hijo de mi alma (também disparada pelo
pai ao filho em Primero Soy Mexicano).
O final representa a conformação edipiana mais perfeita, já que mãe e filho não
possuem mais nenhum “obstáculo” para concretizarem seu amor e dedicação um ao
outro, com as figuras parentais devidamente mortas. Quando se compara a
representação melosa da criança com a que Buñuel empreendera no mesmo ano de um
universo infantil teoricamente não muito distante do aqui apresentado, com Os Esquecidos, percebe-se a gritante
diferença das propostas. Cinematográfica Calderón S.A. 90 minutos.
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