Filme do Dia: O Beijo da Despedida (1957), Stanley Donen

 



O Beijo da Despedida (Kiss Them for Me, EUA, 1957). Direção: Stanley Donen. Rot. Adaptado: Julius J. Epstein baseado na peça homônima de Luther Davis e no romance Shore Leave de Frederic Wakeman. Fotografia: Milton R. Krasner. Música: Lionel Newman. Montagem: Robert L. Simpson. Dir. de arte: Maurice Ransford & Lyle R. Wheeler. Cenografia: Stuart A. Reiss & Walter M. Scott. Figurinos: Charles Le Maire. Com: Cary Grant, Jayne Mansfield, Leif Erickson, Suzy Parker, Ray Walston, Larry Blyden, Nathaniel Frey, Werner Klemperer.

1944. Pilotos condecorados por bravura na Segunda Guerra ganham 4 dias de folga em San Francisco. O Comandante Crewston (Grant), enquanto arranja para que os enormes aposentos do hotel permaneçam sempre festivos, acaba se apaixonando pela noiva de Eddie Turnbill (Erickson), magnata que pretende se lançar à carreira política e utilizar os heróis de Guerra em sua plataforma. A noiva de Turnbill, Gwinneth (Parker) retribui a atenção de Crewston.
Ainda que Donen tenha conseguido resultados bem menos constrangedores em outras investidas longe de seu território familiar, o musical, tal como em Um Caminho para Dois (1967), no qual consegue construir uma comédia relativamente charmosa diluindo as novidades estilísticas do cinema moderno, aqui o resultado é bem diverso. Com sua extravagante fotografia em cores, tela larga e a utilização da paródia escrachada de Monroe como chamariz erótico, Jayne Mansfield (elementos bem melhor aproveitados por um realizador como Frank Tashlin, que dirigiria o filme seguinte com a atriz, Em Busca de um Homem) o filme não consegue dizer a que veio. Apesar de tentar ser uma comédia, em vários momentos ocorrem relatos de desastres de guerra que acabam não possuindo qualquer aproveitamento dramático maior do que favorecer uma aproximação ainda maior entre uma cópia de Audrey Hepburn menos talentosa e charmosa, Suzy Parker (dublada por Deborah Kerr) e o galã Grant, distante de seus melhores momentos com Hitchcock ou Hawks. Ou, ainda pior, demonstrar que o constrangimento permeado por sentimento de culpa de um frívolo, festivo e escapista protagonista ao se deparar com novidades desastrosas da guerra parece ser mais um reflexo do mesmo sentimento por parte de todos que participam da produção, diante ou atrás das câmeras. É dificil enumerar a sucessão de deslizes de modo mais efetivo tal a quantidade em que se sucedem. O personagem vivido por Mansfield, por exemplo, não vai além de vulgares e misóginas insinuações de ninfomania, distantes mesmo do pior BillyWilder, já o patriotismo que pretende despertar é comprometido com o escracho e pouco caso demonstrado em vários momentos e que, algumas vezes, parece pretender um tom sério-dramático de acusação a hipocrisia de uma sociedade que apenas valoriza o dinheiro e as formalidades burocráticas, na veia mais cliché e superficial possível. Talvez o roteiro sofrível advenha do fato de ser uma adaptação baseada em duas fontes distintas que aparentemente não se casam muito bem ou mesmo de modo algum. Ainda que o cartaz do filme e a disposição dos créditos sugira a possibilidade de um triângulo amoroso entre Grant e as duas atrizes principais, desde o início fica bastante evidente que ele não leva (aliás ninguém e muito menos ela própria) Alice Kratzner/Mansfield a sério. Jerry Wald Prod.  para 20th Century-Fox. 105 minutos.

Postada originalmente em 03/07/2019

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