Filme do Dia: Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi (2017), Dee Rees
Mudbound:
Lágrimas Sobre o Mississippi (Mudbound,
EUA, 2017). Direção: Dee Rees. Rot. Adaptado: Dee Rees & Virgil Williams, a
partir do romance de Hillary Jordan. Fotografia: Rachel Morrison. Música:
Tamar-kali. Montagem: Mako Kamitsuna. Dir. de arte: David J. Bomba, Arthur
Jongewaard & Nóra Takács. Figurinos:
Michael T. Boyd. Com: Carey Mulligan, Jason Clarke, Garrett Hedlund, Jonathan
Banks, Dylan Arnold, Rob Morgan, Jason Mitchell, Mary J. Blige, Kelvin Harrison
Jr., Lucy Faust.
Anos 40. A tímida e já considerada solteirona
Laura (Mulligan desperta a atenção de Henry (Clarke), que após casados e com
duas filhas, conta de supetão para ela que irão morar em três semanas com o pai
(Banks), agora viúvo, em uma casa com quatro quartos no Delta do Mississipi.
Laura demonstra surpresa e, pior ainda, quando lá chegam, Henry havia sido
vítima de um trote, não possuindo qualquer escritura. Eles vão morar numa casa
de fazenda bastante rústica, com a família negra Jackson lhes servindo como
trabalhadores. Um dos filhos da família Jackson, Ronsel (Mitchell), parte para
a guerra. O irmão mais novo de Henry, Jamie (Hedlund), também. Quando retornam,
após a guerra finda, nenhum dos dois consegue mais se adaptar ao ambiente e se
tornam próximos, provocando temores mudos do pai (Morgan) e mãe (Blige) de
Ronsel. Laura, grávida de uma terceira
criança, perde a mesma e após se desesperar com as crianças com coqueluche,
tratadas por Florence (Blige), mãe de Ronsel, ela convida-a a trabalhar como
doméstica na casa. O pai de Henry é um racista típico e membro da Ku Klux Klan.
A amizade inter-racial não finda bem para ambos. Nem tampouco para o pai de
Henry.
A forte presença da voz over e a estupenda fotografia poderia sugerir paralelos com os
filmes de Malick, sobretudo os primeiros, mas Rees trafega em um campo bem mais
convencional de filme de época. Um de seus trunfos é a polifonia dessas vozes
(algo do qual Malick extrai força incomum em seu Além da Linha Vermelha). Que aqui surgem sem a mesma força poética
que naquele, mais parecendo ser apenas um mero auxiliar narrativo. E, ao mesmo tempo, encontra-se longe
igualmente de apenas buscar o preciosismo visual de per se, sendo que vários conflitos de ordem social e nas relações
humanas de intimidade pipocam a todo momento. Mesmo enredando tramas paralelas
entre brancos e negros de uma forma algo incomum no equilíbrio, crédito talvez
sobretudo do romance, não foge dos lugares comuns de atos fatídicos ocorrendo
ao mesmo tempo e ressaltados pela montagem. O mesmo valendo para as desgraças
com os seus de Jamie e Ronsel. E, em seus piores momentos, descamba para um
sentimentalismo contido e vulgar, ao descrever a amizade dos jovens negro e
branco. Ao mesmo tempo a presença dos
núcleos raciais distintos provavelmente também lhe abriu as portas para uma
produção de maior aporte financeiro, algo que uma diretora negra provavelmente
não conseguiria ou o faria numa produção bem mais modesta e independente.
Pode-se mensurar o caráter dos personagens em uma atilada Escala Richter das
sensibilidades progressistas contemporâneas à produção, indo do extremo
negativo do velho homem branco ao oposto na figura da mulher negra. A exceção
que apenas ratifica a regra é Jamie, existente por conta de sua experiência
traumática no exército. A trilha musical
onipresente é um dos traços de seu conservantismo estético menos interessantes.
Armory Films/ArtImage Ent./Black Bear
Pictures/Elevated Film/MACRO/MMC Joule Films/Zeal Media para Netflix. 134 minutos.
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